Título: BC já mira na inflação de 2012
Autor: Duarte, Patrícia; Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 09/06/2011, Economia, p. 25

Copom faz 4ª alta seguida de juros e Selic vai a 12,25%, a maior desde janeiro de 2009

Os recentes sinais de arrefecimento da inflação não foram suficientes para mudar o ritmo de aperto nos juros básicos da economia. Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu elevar, por unanimidade, a Taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 12,25% ao ano, repetindo o movimento de abril e dentro das expectativas do mercado. Os analistas mantiveram a projeção de pelo menos mais uma alta este ano, pois o breve comunicado após a reunião reafirmou que suas ações ainda vão durar um "período suficientemente prolongado". Há quem aposte em elevações até outubro. A autoridade monetária busca trazer o IPCA para o centro da meta, de 4,5%, em 2012. Com a elevação, a Selic passa ao nível mais alto desde janeiro de 2009.

Desde o início do governo da presidente Dilma Rousseff, em janeiro, a taxa básica de juros do país já foi elevada em 1,5 ponto percentual, mas o impacto no crédito ao consumidor final foi ainda maior. Isso porque, em dezembro passado, o BC divulgou medidas denominadas "macroprudenciais" que encareceram e limitaram o crédito de longo prazo. Para o mercado, esse movimento correspondeu a uma alta de 0,75 ponto da Selic.

Dentro do BC, a avaliação é que a inflação perderá força a partir de agora, com o IPCA podendo ficar muito próximo de zero em junho e julho. No acumulado em 12 meses, no entanto, o indicador somente começará a ceder a partir de agosto e, até lá, deve ultrapassar 7%, estourando de longe o teto da meta do governo, de 6,5%. Isso ocorrerá, acredita o BC, pela desaceleração dos preços de alimentos e sobretudo pelos efeitos das ações já adotadas, incluindo as elevações da Selic. O IPCA de maio, divulgado na última terça-feira e que mostrou uma alta de 0,47%, menor do que a de 0,77% vista em abril, já foi um primeiro sinal desta trajetória, na avaliação do BC.

Analistas argumentam que outras ações foram tomadas pela equipe econômica nos últimos meses e que também ajudam a fortalecer o aperto monetário. Entre elas, as novas regras para cartões de crédito, que começaram a valer neste mês e que estabeleceram, por exemplo, pagamento mínimo da fatura em 15%, patamar que subirá para 20% em dezembro.

- Mas é bom lembrar que o BC tem deixado claro que a Selic é o principal instrumento de política monetária e esse ritmo pequeno (com altas de 0,25 ponto) pode ser bom porque ele pode ir testando (a eficiência da ação) - afirmou o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Telles, para quem o Copom elevará a Selic até 12,75% em agosto.

Impacto de R$3 bi na dívida pública

Ontem, o comunicado do BC foi praticamente igual ao feito em abril. A nota de diz que, "considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012."

- Isso mostra que o BC ainda não vai parar de subir a Selic - afirmou o economista da consultoria Tendências Sílvio Campos Neto.

No mercado é dado como certo que o Copom repetirá a dose e elevará a Selic novamente em 0,25 ponto percentual em julho, quando se reúne novamente. A partir daí, as expectativas estão difusas e existem instituições que entendem que ela vá até a 13% até o fim do ano, caso também do Santander. Essa dispersão mostra que ainda há dúvidas sobre a condução da política monetária e se ela é, de fato, suficiente para segurar a inflação.

- O problema é a pressão sobre os preços administrados e de serviços, além de o mercado de trabalho ainda estar pressionado. Muitos reajustes salariais deverão acontecer nos próximos meses. Isso mostra que o BC terá dificuldade para desaquecer a demanda - afirmou o economista-chefe da Fram Capital, Robério Costa.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, a trajetória atual da Selic põe em risco o cumprimento da meta de inflação em 2012. As altas graduais e as medidas alternativas, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito à pessoa física, segundo Vale, tiveram pouco efeito sobre o consumo até o momento:

- Nossos exercícios mostram que mesmo que a Selic suba para 13,75% e que a economia cresça em torno de 4% neste ano e no próximo, não seria suficiente para trazer a inflação para 4,5%. Ela ficaria em torno de 5%.

Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria Integrada, diz que a estratégia de ajustes graduais dos juros pode dar certo, embora também considere que seria mais eficaz uma alta maior da Selic. No ritmo atual, diz, serão necessárias ainda mais três altas de 0,25 ponto percentual, para que a Selic chegue a 13%.

- O risco que vemos é de o BC parar de subir os juros antes da hora. Para que não seja necessário voltar a subir juros em 2012, é fundamental que essa sequência de altas seja por um longo período de tempo - ressalta Jensen.

O professor de macroeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rogério Mori, diz que o efeito efetivo dos juros maiores sobre a inflação deve começar a ser sentido no fim do ano e início de 2012, quando o nível de atividade da economia já estará mais fraco. Ele espera pelo menos mais uma alta de 0,25 ponto na Selic este ano.

A continuidade do atual ciclo de alta da Selic voltou a ser criticada por dirigentes da indústria e das centrais sindicais. Para o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que a alta de juros atinge a competitividade das exportações e contribui para atrair mais capital estrangeiro. Já para a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) o novo aumento dos juros "é incompatível com o atual cenários" da economia. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, por sua vez, afirma que a decisão do Copom novamente revela-se um equívoco.

As ações do BC, elevando a Taxa Selic, também acabam afetando a dívida pública interna. Isso porque, segundo o economista-chefe da corretora Prosper, Eduardo Velho, cerca de 60% dela estão atrelados à taxa, incluindo os papéis prefixados. Só a alta de ontem deve representar um desembolso de R$3 bilhões em um ano. Mas, se forem levados em consideração a alta desde janeiro (1,5 ponto no total), a fatura é ampliada em R$14 bilhões.