Título: Negócio sempre preocupou
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 09/06/2011, Economia, p. 28

BRASÍLIA. A compra da Sadia pela Perdigão e a criação da BRF-Brasil Foods - maior empresa de carne processada do mundo e a terceira maior exportadora do país - sempre foi vista com cautela pelas autoridades de defesa da concorrência no Brasil. O primeiro sinal dessa preocupação foi dado poucos meses depois do anúncio da operação, quando a BRF teve que firmar com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) um acordo pelo qual se comprometia a não adotar medidas irreversíveis até que a operação fosse julgada pelo órgão.

O acordo acabou sendo flexibilizado duas vezes: uma para que Sadia e Perdigão pudessem atuar juntas no mercado externo de carnes in natura e outra para que elas pudessem negociar em parceria as aquisições de insumos e serviços. Ontem, no entanto, o relator do processo de fusão no Cade, Carlos Ragazzo, chegou a dizer que as regras do acordo foram alteradas com base em dados errados apresentados pelas companhias.

Em junho de 2010, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, divulgou seu parecer sobre a fusão e sugeriu que ela fosse aprovada com restrições em função de seu alto grau de concentração no mercado.

Segundo a Seae, que foi acompanhada em seu parecer pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, a BRF deveria ser obrigada a licenciar uma das duas marcas (Sadia ou Perdigão) por cinco anos ou vender oito marcas do grupo, entre elas Batavo, Doriana, Claybom e Delicata. Na segunda opção, a BRF também teria que se desfazer dos ativos correspondentes a essas marcas.

Já a Procuradoria do Cade (ProCade) foi ainda mais dura em seu parecer. A avaliação foi que a operação só poderia ser aprovada com restrições, mas que as soluções propostas pela Seae não seriam suficientes para evitar riscos à concorrência no mercado. "Os remédios sugeridos no parecer da Seae não parecem ser suficientes para combater os problemas identificados", afirmava o documento, antecipando o clima do julgamento. (Martha Beck)