Título: Analistas: BRF não tem chance sem vender ativos
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 16/06/2011, Economia, p. 26

Se vantagens frente a rivais não diminuírem, empresa pode ter de desfazer operação

PRODUTOS DAS marcas no mercado: muito à frente da concorrência

SÃO PAULO. Enquanto a BRF-Brasil Foods elogia a maturidade do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ao adiar o julgamento da fusão de Sadia e Perdigão, o que lhe dá mais tempo para tentar convencer os quatro conselheiros que ainda não votaram a não seguir o voto contrário do relator, analistas não veem chance de o negócio ser aprovado sem que a empresa mude profundamente sua proposta junto ao órgão antitruste. Sem vender marcas e ativos importantes, que efetivamente reduzam as vantagens competitivas resultantes da incorporação da Sadia, afirmam, a Perdigão muito provavelmente terá de desfazer a operação de compra da concorrente.

¿ O tamanho da capacidade de produção e distribuição das duas empresas juntas impossibilita os concorrentes de atuar. Por isso, se a empresa não avançar no sentido de abrir mão de ativos, vai ficar muito difícil mudar a posição do Cade ¿ diz Henrique Ribas, analista da Planner Corretora, que vê o segmento de carnes processadas como o mais problemático.

Segundo Ribas, é natural que a BRF queira defender suas áreas de negócio, mas a única forma de reduzir a concentração é transferir ¿sua competência¿ a um concorrente. Além de marcas fortes, Sadia e Perdigão têm sistemas de produção e distribuição muito avançados em relação aos rivais.

¿ Eles terão de propor ao Cade uma desconcentração, e há duas formas para isso: vender uma das marcas ou transferir ativos estratégicos de produção e distribuição a um concorrente. E nas ofertas feitas ao Cade até agora, a BRF passou longe disso ¿ afirma.

Empresa poderia ficar apenas com a marca Sadia

Pedro Dutra, advogado especializado em defesa da concorrência, considera a decisão do Cade positiva, já que abre espaço para negociações. Mas ressalta que a BRF terá de superar duas dificuldades:

¿ Primeiro, há um voto muito contundente, e bem fundamentado, do relator (Carlos Ragazzo) contra a operação. E também há a natural dificuldade da empresa, a essa altura, de apresentar uma proposta substancialmente diferente daquela já recusada pelo relator.

Outro aspecto debatido por analistas é se seria interessante a BRF vender ativos estratégicos da Sadia e ficar apenas com a marca. Para Ribas, isso é factível.

¿ Como as duas empresas (Sadia e Perdigão) têm know-how forte em produção e distribuição, poderiam recompor a estrutura em pouco tempo, é tudo integrado.