Título: Em meio à violência, Grécia mudará governo
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Fonte: O Globo, 16/06/2011, Economia, p. 23

Premier anunciará hoje novo ministério e pedirá voto de confiança do Congresso. Protestos reúnem 20 mil em Atenas

MANIFESTANTE JOGA pedra contra a polícia durante protesto em Atenas

ATENAS. O premier grego, George Papandreou, anunciará hoje um novo Gabinete depois de a oposição ter rejeitado sua proposta de formar um governo de coalizão e de novos e violentos protestos tomarem as ruas da capital. Papandreou ainda pedirá um voto de confiança, na expectativa de que a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) liberem semana que vem uma nova parcela do pacote de ajuda, no valor de 12 bilhões.

Pela manhã, segundo fontes do governo, Papandreou teria se reunido com o líder da oposição, Antonis Samaras, e proposto renunciar ao cargo se houvesse um acordo para aprovar as medidas de austeridade no Parlamento. Mas, disseram as fontes, Samaras disse que só aceitaria se fosse seu partido, o Nova Democracia, a negociar com UE e FMI.

¿ Antes mesmo de entrarmos em negociações significativas, a oposição apresentou condições que não podem ser aceitas ¿ disse o premier em rede nacional de TV. ¿ Continuarei no mesmo caminho. Amanhã (hoje) formarei um novo governo e buscarei um voto de confiança do Parlamento.

Em Atenas, cerca de 20 mil manifestantes cercaram o Parlamento, na Praça Syntagma, contra as medidas de austeridade, no valor de 28 bilhões, exigidas por UE e FMI. Os trabalhadores fizeram greve geral. Alguns manifestantes jogaram coquetéis molotov no prédio do Ministério de Finanças. A polícia usou gás lacrimogêneo para tentar dispersar a multidão, que revidou com pedras e queimou barricadas. Às 22h30m, segundo a polícia, ainda havia 8 mil pessoas na praça.

Um ministro, então, considerou as negociações impossíveis no momento. Depois que Papandreou fez o pronunciamento, Samaras pediu eleições antecipadas.

Acordo sobre novo socorro só deve sair em julho

O premier não deu detalhes sobre a mudança no governo, mas analistas acreditam que os principais ministros sejam trocados ¿ entre eles o de Finanças, George Papaconstantinou. Um membro do Gabinete disse à agência Dow Jones que Papaconstantinou é hoje o ministro mais detestado pelo povo, devido às medidas de ajuste, e que ele deve sair se o premier quiser evitar uma revolta em seu próprio partido, o Pasok.

A Grécia tenta obter mais 60 bilhões, além dos 110 bilhões concedidos por UE e FMI no ano passado. Mas a UE não chegou a um acordo e a decisão pode sair apenas em meados de julho. O impasse diz respeito à participação de credores privados em uma reestruturação da dívida grega. Ontem, no entanto, a agência de classificação de risco Fitch informou que, mesmo com a participação voluntária dos credores, essa reestruturação seria vista como calote e a Grécia seria rebaixada.