Título: Tentativa de frear a crise
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2009, Política, p. 3

Senado vive dia de armistício, e líderes de partido tentam costurar um difícil acordo no qual todos fiquem bem perante os eleitores

Acossado por representações no Conselho de Ética, Sarney repetiu o discurso de que a oposição busca atingir o presidente Lula

Depois de uma terça-feira em que todos se apresentaram aparentemente mais desarmados em plenário, a crise do Senado mergulhou para um intenso freio de arrumação nos bastidores e contou com a intervenção do Palácio do Planalto. O armistício, no entanto, não debelou a crise nem escondeu o impasse: O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), não aceita que seus aliados, especialmente o PT, duvidem da sua ¿lisura política¿ e ajam a fim de tentar reabrir representação contra ele. E existe a intenção dos petistas de, ao menos, investigar se houve quebra de decoro no ato que nomeou o namorado da neta de Sarney a um cargo no Senado, conforme antecipou o Correio.

¿Estamos numa casa política. Pelo fato de minha luta ter peso na sucessão (presidencial), desencadeou-se essa crise para enfraquecer o presidente da República. Não posso senão resistir e ser firme, com a certeza de minha consciência e lisura no trato com as coisas administrativas. A coisa mais grave de que me acusam é a de que eu tenha pedido para nomear o namorado de minha neta¿, reagiu Sarney em conversa com políticos do Amapá que foram lhe prestar solidariedade.

A divulgação da declaração de Sarney logo no início da tarde no site do Senado serviu de contraponto ao fato de mais dois senadores do PT ¿ Marina Silva (AC) e Eduardo Suplicy (SP) ¿ terem assinado o manifesto das oposições que exige o afastamento do presidente do Senado. Agora, são cinco os petistas signatários do documento, que, teoricamente, teria o aval de 41 senadores. Essa conta não é matemática porque, dentro do PSDB, DEM e PDT, há senadores que não concordam com o afastamento de Sarney e estão representados pelos respectivos líderes partidários.

Os petistas fizeram ontem mais uma reunião para discutir que representações devem ser desarquivadas no Conselho de Ética. Detiveram atenção naquela que trata da nomeação do namorado da neta. O líder do partido Aloizio Mercadante (SP) passou o dia se comunicando pelo Twitter: ¿A bancada do PT está analisando com rigor as representações contra Sarney. Não concordamos com o arquivamento sumário¿.

Mas, a pedido do Planalto e do PMDB, os petistas ficaram de pensar mais. Até porque tudo caminha para baixar a poeira e os personagens mais polêmicos saíram de cena. O ¿cangaceiro¿, como o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) chamou dia desses o líder do PMDB Renan Calheiros (AL), passou o dia em conversas reservadas. O ¿coronel¿, como Renan se referiu a Tasso, pediu desculpas à Nação pela reação incisiva da última quinta-feira. ¿Apoio a atitude dele, que significa o caminho para restabelecer o debate político e retomar votações. Eu acho que a desculpa, na realidade, o Senado é que deve ao Brasil por todos os erros que foram cometidos nesta Casa¿, disse Mercadante.

Dentro dessas conversas em torno de pontes para se chegar a um acordo final, o presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), deixou para quinta-feira a decisão sobre o pedido de representação contra o líder do PSDB Arthur Virgílio (AM). A forma incisiva com que os peemedebistas falavam nos bastidores sobre a perspectiva de abrir investigação contra o tucano começa a esmorecer. Mas ainda depende do que fará o PSDB em relação a Sarney. Duque também não fixou prazo colocar em votação os recursos que pedem a abertura de investigação contra Sarney.

A ideia do PMDB é arquivar a representação contra Virgílio e, se alguém pedir a abertura de investigação sobre Sarney, o PMDB entraria com recursos para desarquivar a representação contra Virgílio. A sensação dos políticos que não estão no meio dessa briga é a de que todos os personagens desejam um acordo, mas ninguém quer ficar mal na foto do eleitor. Por isso, as conversas até a semana passada terminaram atropeladas pelos fatos da mesma forma que Sarney se diz atropelado pela luta política. Ontem, no entanto, ninguém era capaz de responder até quando continuará o atropelamento.

Senador na mira dos colegas

DENÚNCIAS

Crédito consignado O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) quer saber se houve favorecimento do neto de Sarney na intermediação de crédito consignado no Senado.

Fundação Virgílio pede investigação sobre o desvio de patrocínio da Petrobras à Fundação José Sarney.

Fundação 2 O líder tucano quer apurar se houve quebra de decoro por Sarney ter dito que não tem vínculo com a fundação que leva seu nome quando, na verdade, é presidente vitalício.

Nomeações Também de autoria de Arthur Virgílio, o foco dessa denúncia são as nomeações de parentes e conhecidos por atos secretos.

Abin Arthur Virgílio e Cristovam Buarque (PDT-DF) pedem apuração sobre o fato de um funcionário de José Sarney repassar informações de investigação policial e da Abin a Fernando Sarney.

Pericumã Virgílio e Cristovam sugerem análise sobre suposta irregularidade na venda de uma fazenda do senador Sarney no Distrito Federal.

REPRESENTAÇÕES

Atos Secretos O PSol aponta a responsabilidade do presidente do Senado na edição de atos secretos.

Neto O PSDB sugere investigação sobre se houve favorecimento do neto de Sarney na intermediação de crédito consignado no Senado.

Namorado da neta O PSDB pede investigação sobre quebra de decoro por Sarney negociar com o filho Fernando a nomeação de um namorado da neta Maria Beatriz .

Desvio O PSDB pede investigação sobre desvio de patrocínio de R$ 1,3 milhão da Petrobras à Fundação José Sarney.

Mansão O PSol representou Sarney por ele ter supostamente omitido da Justiça Federal possuir uma residência de R$ 4 milhões em Brasília.