Título: Após crise, PMDB espera reaproximação
Autor: Braga, Isabele; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/06/2011, O País, p. 9

Dilma ameaçou com rompimento

BRASÍLIA. Passado o pior da primeira crise enfrentada pelo governo Dilma Rousseff, que levou à queda de Antonio Palocci da Casa Civil e na troca de comando da articulação política, o PMDB espera que a presidente tenha aprendido com seus erros, que quase a levaram a romper com o maior partido da base aliada. Dilma até hoje não conversou com seu vice, Michel Temer, sobre o ríspido diálogo entre ele e o então chefe da Casa Civil, às vésperas da votação do Código Florestal na Câmara.

Na primeira ligação para Temer, que estava na residência oficial do Palácio do Jaburu, dia 23 de maio à noite, Palocci teria feito a primeira advertência sobre a disposição de Dilma de romper com o PMDB, se a bancada do partido na Câmara ajudasse a aprovar a emenda 164, que dispensa a recuperação de terras desmatadas até 2008 em área de reserva legal.

Temer chegou a rir, achando que fosse brincadeira. Por volta das 23h, Palocci ligou novamente e consultou Temer se o vice se importaria de pôr a ligação no viva-voz para que o então ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), acompanhassem a conversa. Palocci anunciou então que Dilma decidira romper com o PMDB e que todos os ministros do partido seriam demitidos; o primeiro seria uma indicação de Temer: Wagner Rossi (Agricultura), logo no dia seguinte.

O vice percebeu que a ameaça era concreta e avisou que não estava preocupado com "um ministério de merda" - expressão que jura nunca ter dito. Antes de encerrar a conversa, acrescentou que não seria necessário demitir Rossi, pois, na manhã seguinte, o ministro e demais integrantes do PMDB no governo apresentariam suas cartas de demissão.

Dez minutos depois, Palocci voltou a ligar, desculpando-se:

- Desculpe pelo telefonema anterior. A tensão está grande, mas sempre fomos amigos.

- Não, Palocci. Nunca fomos amigos íntimos - devolveu Temer, que no dia seguinte se recusou a conversar pessoalmente com Dilma.

O governo perdeu a votação do Código Florestal.

Quando trata do assunto, Temer diz que "as pessoas estavam muito nervosas naqueles dias" e assegura que, desde então, "melhorou muito a relação da presidente com ele e com o PMDB". Mas só o tempo dirá.