Título: Planalto cobra ajuste e resiste a liberar emendas
Autor: Braga, Isabele; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 16/06/2011, O País, p. 9

Aliados dão 15 dias para que governo atenda às demandas; "desejo é maior que possibilidade concreta", diz Ideli

BRASÍLIA. A ministra Ideli Salvatti, de Relações Institucionais, tentou frear a gula dos aliados, que pressionam cada vez mais por liberação e empenhos (garantia de pagamento) de emendas de parlamentares ao Orçamento. Ideli apelou para o discurso de responsabilidade de todos com o equilíbrio fiscal. Aliados avisam, porém, que a promessa de empenho de apenas R$1 bilhão é insuficiente e querem, pelo menos, R$2 bilhões dos R$3,3 reivindicados.

Os parlamentares anunciavam ontem uma prova de fidelidade ao governo, aprovando o Regime Diferenciado de Compras (RDC) para as obras da Copa e das Olimpíadas. Mas os líderes avisaram que aguardarão 15 dias para que o governo comece a atender às demandas.

Líderes querem que ministra prove que tem autonomia

Ideli se reuniu ontem de manhã com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a quem prometeu ir frequentemente à Casa. Indagada se seria possível atender ao pedido dos líderes, de liberação de verbas e empenho de pelo menos 50% das emendas aprovadas no Orçamento de 2011, Ideli citou as limitações do governo:

- O desejo é sempre muito maior do que a possibilidade concreta. Vamos olhar com atenção aos pleitos, dentro das possibilidades, principalmente num ano como este. Esse rigor nas medidas adotadas estão surtindo efeito e isso não pode ser modificado. Este é o ano em que todos temos que estar responsáveis com o equilíbrio fiscal, com o controle da inflação e com o crescimento com distribuição da renda.

- A ministra foi cuidadosa. Não pode fazer promessas que não podem ser cumpridas. Os parlamentares querem que haja desembolso. As emendas são importantes, mas não é o que vai movimentar a atuação dos parlamentares aqui (nas votações) - afirmou Maia.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), sugeriu a Ideli ter um tempo para apresentar apresente soluções:

- A ministra disse que irá conversar, negociar. Sugeri a ela que coloque outro verbo nesse discurso: resolver. Os outros líderes aplaudiram. Vamos dar um tempo à ministra, 15 dias, um mês. Ela está chegando, semana que vem é São João. Na votação do RDC, o PMDB dará bons votos ao governo - afirmou.

Os líderes esperam que, nesse período, Ideli comprove que tem autonomia para agir. Caso não haja o atendimento de reivindicações, a base começará a comprometer as votações.

- Empenhar R$1 bilhão é pouco. Isso o Luiz Sérgio já prometia - resumiu um aliado.

Os parlamentares também querem que o governo prorrogue, de 30 de junho para 31 de dezembro, o prazo para o cancelamento dos chamados restos a pagar (pagamento de emendas que ficaram de um ano para outro) de 2009. O governo promete dar uma resposta até amanhã. Se o prazo for mantido, perderão a validade emendas que somam mais de R$2 bilhões.