Título: BC vê novas altas de juros e reajuste maior da gasolina
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 17/06/2011, Economia, p. 24
Em ata, Copom diz que elevação da Selic será por "período suficientemente prolongado". Combustível deve subir 4%
BRASÍLIA. Mesmo afirmando que o comportamento da inflação está mais "favorável", o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reforçou aos agentes econômicos que o ciclo de alta da Taxa Selic - hoje em 12,25% ao ano - vai permanecer "por um período suficientemente prolongado". Na ata do último encontro, realizado no dia 8, seus integrantes sinalizaram que é possível haver pelo menos mais duas altas dos juros, estendendo o arrocho monetário até agosto. Além disso, elevaram de 2,2% para 4% a projeção de aumento nos preços da gasolina este ano.
A autoridade monetária reconheceu na ata que a inflação deu sinais positivos nas últimas semanas, muito pelas medidas de restrição ao crédito adotadas em dezembro e pelas elevações feitas na Selic, que, desde janeiro, somam 1,50 ponto percentual. Por outro lado, o BC entende que o cenário internacional voltou a ficar incerto, sobretudo com os acontecimento na Europa. Na média, o mercado previa apenas mais uma elevação da taxa, de 0,25 ponto percentual, no encontro de julho.
- Está garantido que mais uma alta de 0,25 ponto será feita em julho (quando o Copom se reunirá novamente), e não fechou as portas para mais uma elevação em agosto. É o mais provável - resumiu o economista-chefe da Máxima Asset, Elson Teles.
Para a equipe de economistas do Bradesco, o cenário mais provável é apenas mais uma elevação em julho, porém, diante dos sinais da ata, "a probabilidade de uma nova elevação em agosto é crescente". Segundo o time comandado por Octavio de Barros, "o BC parece encontrar-se em voo de cruzeiro, ainda não preparando o terreno para que a última elevação ocorra já na próxima reunião".
O BC trabalha para levar a inflação ao centro da meta oficial, de 4,5% pelo IPCA, em 2012. Por conta disso, na última semana, elevou em 0,25 ponto percentual a Selic pela segunda vez seguida, depois de já ter subido por duas vezes os juros em 0,5 ponto percentual.
Na ata, o BC informou que as projeções de inflação tanto no cenário de referência (com dados constantes) quanto de mercado (projeções feitas por analistas) para 2012 continuam acima do centro da meta, mas sem abrir os números. Já para 2011, o BC reduziu um pouco suas expectativas, mas manteve-as acima do centro da meta.
- O Copom fala em melhora da inflação a curto prazo, por isso não melhorou as estimativas - destacou Teles, da Máxima Asset Management.
A autoridade monetária deixou claro que a demanda interna continua aquecida, apesar de estar em curso uma moderação.
Até maio, combustíveis subiram 10,5% no país
"No último trimestre de 2010 e no primeiro deste ano, a inflação foi fortemente e negativamente influenciada por choques de oferta domésticos e externos. As evidências sugerem que os preços ao consumidor já incorporaram grande parte dos efeitos diretos desses choques", diz um trecho do documento.
Porém, logo em seguida, a ata informa que são "relevantes os riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda, apesar dos sinais que esse descompasso tende a diminuir".
Ao elevar de 2,2% para 4% a projeção de alta nos preços da gasolina este ano, o Copom fez questão de ressaltar que esse movimento, apesar de mais robusto, ainda mostra uma reversão nos aumentos verificados até então, de 10,5% até maio. Os combustíveis registraram altas por causa do maior preço do etanol, que faz parte da composição da gasolina. Para o BC, por outro lado, os preços do gás de bujão ficarão estáveis este ano.