Título: Austeridade terá efeito nas ruas
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Fonte: O Globo, 17/06/2011, Economia, p. 23
No recém-lançado Mapa de Terrorismo e Violência Política, da consultoria de gestão de riscos americana Aon Risk Solutions, a Grécia foi o único país europeu classificado como de elevado risco para os negócios. Para o diretor de Comércio e Investimento Internacional da consultoria, Keith Martin, a onda de greves e manifestações pode afugentar investidores.
Danielle Nogueira
Por que a Grécia foi classificada como de risco elevado para os negócios?
KEITH MARTIN: Nós fazemos uma edição anual do mapa do terrorismo desde 2002. Este ano, em função da onda de protestos no Norte da África e no Oriente Médio, decidimos incluir no trabalho a violência política, ou seja, greves, tumultos e comoções civis. A Grécia também está vivendo um momento de grande agitação política, daí a classificação.
Como as greves podem afetar os negócios?
MARTIN: Há dois efeitos de curto prazo. O primeiro são os danos físicos. As manifestações costumam eleger símbolos a serem atacados. As multinacionais se tornam alvos fáceis nesse contexto, por serem associadas à globalização. Fábricas podem ser atacadas, causando prejuízos às empresas. Além disso, o bloqueio de estradas, portos e aeroportos afeta a cadeia de suprimentos e a própria venda de mercadorias. Temos aí o lucro cessante.
E quais são os efeitos a médio prazo para os investimentos?
MARTIN: Há uma piora no clima de investimentos. Investidores percebem que podem ter problemas com sindicatos, por exemplo. Os governos tendem também a tomar medidas populares para retomar a confiança da população. Isso pode significar aumento de impostos e cancelamentos de contratos.
O premier grego anunciou que fará mudanças no gabinete e negocia um novo empréstimo. Isso resolverá o problema?
MARTIN: Acredito que a União Europeia concederá um novo empréstimo. Mas o risco politico continuará alto. Consequentemente, apenas negócios de rentabilidade elevada justificarão novos investimentos.
Há temor de o risco político da Grécia se espalhar?
MARTIN: Espanha e Portugal, por exemplo, também têm situações fiscais complicadas, levando a mais medidas austeras, e essas medidas surtirão efeito nas ruas.