Título: Efeito Grécia nos mercados
Autor:
Fonte: O Globo, 17/06/2011, Economia, p. 23
Instabilidade política e incerteza sobre recursos financeiros derrubam bolsas globais
ATENAS, LONDRES e NOVA YORK
As incertezas políticas na Grécia se refletiram nos mercados globais ontem, derrubando quase todas as bolsas de valores, à exceção de Nova York. O premier grego, George Papandreou, adiou para hoje o anúncio do novo Gabinete. Seu partido, o Pasok, fez uma reunião de emergência que durou sete horas. As mudanças serão anunciadas hoje às 9h (hora local). Papandreou prometeu que o novo governo será "mais eficaz e coeso" e alertou que, se a Grécia não aprovar novas medidas de austeridade, isso poderá significar o fracasso da União Europeia (UE). No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 1,17%, aos 60.880 pontos, o menor patamar desde 15 de julho de 2010. Já o dólar avançou pelo segundo dia e fechou a R$1,610, em alta de 0,62%.
- As mudanças serão anunciadas amanhã (hoje) às 9h, e o Gabinete tomará posse às 13h - disse o porta-voz do governo, George Petalotis.
Ainda não se sabe se o ministro de Finanças, George Papaconstantinou, continuará. Ele é respeitado pelos mercados externos, mas tornou-se alvo da ira dos gregos devido às medidas de austeridade, que incluem demissões no setor público, corte de pensões e privatizações. No domingo, Papandreou espera receber um voto de confiança do Parlamento.
As bolsas da Ásia abriram em queda refletindo os violentos protestos da quarta-feira - que não se repetiram ontem - em Atenas e a declaração do diretor do Conselho Executivo do Banco Central Europeu (BCE), Nout Wellink, de que o fundo de resgate da zona do euro deveria ser dobrado para 1,5 trilhão. Tóquio caiu 1,7%, e Xangai, 1,52%.
Na Europa, pesou a incerteza sobre a concessão ou não de uma nova ajuda à Grécia e sobre a liberação de uma outra parcela do empréstimo de 110 bilhões acertado no ano passado. Se essa parcela, de 12 bilhões, não sair no início de julho, a Grécia não poderá honrar seus compromissos e terá de decretar um calote.
Londres teve queda de 0,70% e Paris, de 0,38%. Frankfurt recuou apenas 0,07%. Já a Bolsa de Atenas caiu 2,81%, puxada pelos bancos: National Bank (-4,16%), Alpha Bank (-4,29%) e Eurobank EFG (-3,33%).
"O momento é histórico", diz premier
Em Nova York, a crise grega foi contrabalançada pela queda nos pedidos de seguro-desemprego e pela alta na construção de novos imóveis. O índice Dow Jones subiu 0,54%, e o S&P, 0,18%. Já o Nasdaq recuou 0,29%.
Com os investidores fugindo de ativos de risco, o ouro avançou 0,20%, a US$1.529,90 a onça-troy. O euro, depois de cair 0,9% frente ao dólar, encerrou em alta de 0,2%, a US$1,4204. Mas a moeda única europeia atingiu um mínimo recorde frente ao franco suíço: 1,19466 francos (-1,2%).
Papandreou fez um pronunciamento no Parlamento e assegurou que continuará à frente do governo. Havia rumores de que o Pasok queria sua saída: ontem, dois parlamentares deixaram o partido. O premier ainda prometeu tirar a Grécia da crise.
- O país está em um momento crítico. Vocês podem confiar em mim, e eu vou apoiar os esforços nacionais para tirar a Grécia da crise - afirmou. - Nossa resposta aos desafios é estabilidade e manter o curso das reformas.
Em um apelo por união para aprovar as medidas de austeridade, Papandreou acenou com a possibilidade do fracasso da UE:
- O momento é histórico. Ou a Europa fará História ou a História vai apagar a União Europeia.
O líder da oposição, Antonis Samaras, no entanto, afirmou que o Pasok "não consegue mais governar".
Tentando acalmar os mercados, o comissário para Assuntos Econômicos e Financeiros da UE, Olli Rehn, disse que os ministros de Finanças da zona do euro devem aprovar no domingo a liberação da nova parcela do pacote de ajuda à Grécia. Segundo ele, os recursos sairiam no início de julho.
Rehn, no entanto, admitiu que montar um novo socorro levará tempo. Fontes da UE disseram que a Alemanha quer adiar a decisão para setembro. Mas o ministro de Finanças da Irlanda, Michael Noonan, afirmou ontem que a Grécia pode obter mais ajuda a curto prazo.
"FT" teme "moratória desordenada"
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, também fez um apelo para que a Europa encontre com urgência a melhor forma de ajudar a Grécia, preservando a zona do euro:
- Precisamos defender nossa moeda única e as instituições europeias. Temos de deixar para trás nossas disputas nacionais para voltar a encontrar a sensação de que compartilhamos um destino comum.
Uma porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Caroline Atkinson, afirmou que a instituição está pronta para ajudar a Grécia. Mas para isso, ressaltou, o Parlamento grego tem de aprovar as medidas de ajuste e a Europa precisa garantir "completo financiamento".
Enquanto isso, crescem os temores de um calote grego. O jornal britânico "Financial Times" afirmou que, se nos próximos dias alguma das partes - a Grécia ou seus credores - não ceder, o país pode "acelerar em direção a uma moratória desordenada, causando um estrago na zona do euro e nos mercados financeiros internacionais".