Título: Edumundo: da prisão à liberdade em 18 horas
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 17/06/2011, Rio, p. 21

Ex-jogador chegou a ser considerado foragido, acabou detido em apartamento em SP, mas conseguiu habeas corpus

O EX-JOGADOR Edmundo deixa a delegacia em São Paulo onde passou 18 horas preso: ele tinha sido detido num flat, após denúncia anônima

SÃO PAULO. O ex-jogador de futebol e comentarista esportivo Edmundo Alves de Souza Neto passou cerca de 18 horas preso ontem, na 3ª Delegacia Seccional Oeste de São Paulo, no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista. Ele era considerado foragido pela polícia do Rio, que procurou o ex-atacante em diversos locais, para cumprir um mandado de prisão expedido pela Justiça do Rio. Edmundo foi solto às 19h de ontem, depois de ter sido beneficiado à tarde por um habeas corpus concedido, liminarmente, pela desembargadora Rosita de Oliveira Netto, da 6ª Câmara Criminal do Rio.

Na delegacia, Edmundo recebeu lanche de amigos

O ex-jogador tinha sido detido por volta da 1h num flat de sua propriedade, na Rua Amauri, no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. A polícia chegou ao imóvel após receber denúncia anônima. Em 1999, Edmundo foi condenado pela 17ª Vara Criminal do Rio a quatro anos e seis meses de prisão, em regime semiaberto, pelo homicídio culposo (sem intenção de matar) de três pessoas e por lesões corporais em outras três, num acidente de trânsito, na Lagoa. O crime ocorreu na madrugada do dia 2 de dezembro de 1995. Ele recorreu e, também em 1999, a 6ª Câmara Criminal do Rio determinou a prisão do atleta. Na ocasião, o ex-jogador passou 24 horas preso, sendo solto por uma liminar do Superior Tribunal de Justiça. Edmundo volta a recorrer em liberdade da condenação.

Na quarta, o juiz Carlos Eduardo Figueiredo, da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Rio, determinou a prisão do ex-jogador, pois entendeu que não houve a prescrição da pena de Edmundo.

Ontem, o ex-jogador passou boa parte do dia sozinho numa cela de quatro metros quadrados, que tinha apenas um louça no chão, que serve como vaso sanitário. O espaço é destinado apenas a presos que aguardam transferência. Antes de ser encaminhado à cela, ele passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal. De acordo com policiais de São Paulo, de manhã dois amigos do atual comentarista esportivo estiveram na delegacia e levaram um lanche para ele.

O delegado da 3ª Delegacia Seccional Oeste de São Paulo, Eduardo Castanheira, afirmou que Edmundo se mostrou surpreso ao ser detido, mas não reagiu. Antes de deixar o flat, ele tomou banho, pegou roupas e telefonou para a família e para advogados.

Ainda segundo o delegado, o ex-atleta disse que não havia se entregado quando o mandado de prisão foi expedido, na quarta-feira, pois esperava que seus advogados tomassem medidas judiciais para evitar que ele fosse detido.

¿ Ele tomou um susto, mas depois ficou calmo. Ele disse que confia na Justiça, que está com a consciência tranquila ¿ contou o delegado. ¿ Fomos até o apartamento, tocamos a campainha e ele estava de pijama. Não ofereceu resistência. Ainda o autorizei a tomar um banho, antes de ir para a delegacia. Ele até deu alguns telefonemas para amigos ¿ contou.

Defesa alegou prescrição de pena para soltar ex-atleta

Às 9h, policiais da Polinter saíram do Rio, de carro ¿ para evitar assédio ¿, para São Paulo. O objetivo era transferir o comentarista para o complexo penitenciário de Bangu. Mas, enquanto os policiais estavam a caminho, o advogado de Edmundo, Arthur Lavigne, entrou com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça pedindo a libertação do seu cliente. Lavigne alegou que a pena do ex-atleta já havia prescrito.

Às 16h30m, minutos depois de os policiais da Polinter chegarem à delegacia, a desembargadora Rosita de Oliveira Netto, da Sexta Câmara Criminal do Rio, concedeu, liminarmente, o habeas corpus e decidiu que Edmundo deveria ser solto. Na opinião da magistrada, a prisão do ex-jogador foi ilegal, pois ainda não houve o trânsito em julgado, ou seja, ainda cabe recurso do processo em que Edmundo foi condenado.

¿ É uma vitória grande. A ordem foi restabelecida ¿ comemorou a advogada de Edmundo em São Paulo, Ana Beatriz Saguas.