Título: Apoio pouco entusiasmado
Autor: Oliveira, Eliane; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 17/06/2011, O País, p. 4

Apesar de ressalvas à atuação de Ban Ki-moon, Brasil respalda sua reeleição na ONU

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff declarou ontem, formalmente, apoio do Brasil à reeleição do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, mesmo não tendo havido, por parte do sul-coreano, qualquer gesto claro de respaldo à candidatura brasileira a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da entidade. Mais cedo, após almoçar com o chanceler Antonio Patriota, Ban Ki-moon desconversou nas duas vezes em que foi perguntado sobre o tema. Disse defender uma participação maior dos países da América do Sul e que está "consciente" da aspiração brasileira.

Diante da insistência dos jornalistas, afirmou que esse era um assunto sobre o qual não estava em posição de comentar, já que se trata de uma decisão dos membros permanentes do conselho:

- A reforma do Conselho de Segurança já está mais do que tardia. Deveria ser reformado de forma mais representativa e democrática. Espero que isso seja acelerado e que as negociações possam continuar. Os países sul-americanos podem ter um papel bem maior nas Nações Unidas. Estou muito consciente da aspiração do governo brasileiro. Quem será eleito membro permanente do Conselho de Segurança, cabe aos Estados-membros determinar - afirmou o secretário-geral da ONU, que, antes do Brasil, esteve na Colômbia, na Argentina e no Uruguai.

O apoio de Dilma à recondução de Ban Ki-moon foi, na linguagem diplomática, "sem adjetivos", para não dizer a contragosto. O Brasil votará "sim" à reeleição por duas razões: em primeiro lugar, porque não há outro candidato. Em segundo, não há sentido em comprar uma briga, neste momento, com um "não" ou uma abstenção.

Perguntado sobre o tema, horas antes do encontro entre o secretário-geral da ONU e a presidente, Patriota tentou resumir o que acontecia, sem entrar em detalhes:

- Entendo que ele é o único candidato e, numa eleição em que há um único candidato, não há muita surpresa. Aguardemos o encontro dele com a presidente.

Nos bastidores, o que se diz é que Ban Ki-moon pouco fez para mudar sua imagem, de maior proximidade com os países desenvolvidos, e não com as nações emergentes. Um dos pontos de irritação foi a falta de uma declaração mais positiva a respeito da candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Apesar do problema relativo à reforma do Conselho de Segurança, Ban Ki-moon destacou a liderança do Brasil na área ambiental e na questão de gênero, no encontro com Dilma, e lembrou que ela será a primeira mulher a abrir o debate geral da Assembleia Geral da ONU, em setembro.

Ban Ki-moon opinou sobre o tratamento a ser dado pelo governo brasileiro a documentos confidenciais:

- Alguns países têm regra de confidencialidade de 20 anos; outros, de 30 anos. Isso depende de cada país. É uma decisão específica do governo brasileiro - afirmou.

Além da agenda no Executivo, Ban Ki-moon teve encontros com representantes da sociedade civil e foi recebido pelos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS).