Título: FMI reduz previsão para crescimento do Brasil
Autor: D"Ercole, Ronaldo; Justus, Paulo; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 18/06/2011, Economia, p. 28

Para este ano, estimativa foi reduzida de 4,5% para 4,1%. Para 2012, são 3,6%. Outros Bric têm projeção mantida

SÃO PAULO e RIO. O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção de crescimento para o Brasil neste ano e elevou ligeiramente a estimativa para o conjunto dos países emergentes. De acordo com a nova versão do relatório "Perspectiva Econômica Mundial", divulgada ontem pela primeira vez no país, o Brasil deverá crescer 4,1% em 2011. A previsão é inferior aos 4,5% do relatório de abril do próprio FMI e do governo. Já a para os emergentes, o Fundo subiu de 6,5% para 6,6% a projeção de crescimento. À exceção do Brasil, os demais Bric tiveram sua projeção de crescimento mantida. Foi justamente o maior fôlego dos emergentes que evitou queda maior na projeção do PIB mundial em 2011, que também foi revista, de 4,4% para 4,3%.

A estimativa de crescimento menor da economia brasileira foi motivada por novos indicadores divulgados depois de abril, entre eles o ritmo menor da produção industrial. O Fundo também alerta para os efeitos da alta de juros no nível de atividade.

O economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, disse que o bom momento vivido pelos mercados emergentes deve-se à políticas econômicas responsáveis dos últimos anos. Esse foi um dos diferenciais que, segundo ele, permitiram que o risco Brasil ficasse abaixo do americano, cuja avaliação piorou devido ao impasse político em torno da definição de um novo teto para o endividamento do setor público dos EUA.

- Essa é claramente uma boa notícia para o Brasil, não tão boas para os EUA. Mostra que, de um lado a política fiscal tem sido bem responsável, e o Brasil tem colhido os benefícios dessa política. Para os EUA, há um pouco de drama vindo da necessidade de aumentar o teto da dívida, que está introduzindo incertezas e aumentando o risco no momento - disse Blanchard.

Mas nem tudo são boas notícias para os países emergentes. Os grandes fluxos de capitais atraídos pela performance robusta dessas economias continuam provocando uma valorização excessiva das moedas, caso do real.

- As autoridades econômicas estão diante de riscos de choques potencialmente grandes, que podem impactar o sistema financeiro num momento em que sua estabilidade e estrutura ainda não está fortes o suficiente. Há portanto, menos margem de manobra para contornar tais choques com políticas tradicionais, fiscal e monetária - afirmou o diretor do departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, José Viñals.

O Fundo alerta também em seu relatório para a necessidade de que se acelere a reforma do sistema financeiro internacional. Segundo o Fundo, a "janela atual de oportunidade para preparar o sistema financeiro a enfrentar possíveis choques sistêmicos pode fechar-se inesperadamente", diz o relatório.

Contribuíram para o aumento do risco global dois outros fatores, que o Fundo chama de "surpresas negativas": o efeito "devastador" do terremoto e tsunami no Japão, que atingiu a produção industrial em diversos países; o crescimento "decepcionante" da economia americana. Como consequência, a projeção de crescimento para o PIB japonês deste ano foi o que teve a maior alteração, passando de um crescimento de 1,4% para uma retração de 0,7%. Para o PIB americano, a estimativa recuou de 2,8% para 2,5%.

- Em contraste, o crescimento da Zona do Euro superou as expectativas, impulsionado pelos números positivos na Alemanha e na França - observou Blanchard.

A Europa também é citada pelo Fundo como a região onde existem as maiores assimetrias econômicas. As dúvidas crescentes sobre a sustentabilidade dos programas de ajuste fiscal dos chamados países periféricos, como Portugal, Irlanda e Grécia, se acentuaram.

- Todos sabíamos que esse seria um ajuste doloroso, porque o país tem de melhorar a competitividade e fazer uma enorme consolidação fiscal. Sabíamos que o programa iria requerer sacrifícios - disse o economista-chefe do Fundo.

Revisão deste ano era esperada, já a de 2012 não

A decisão do FMI de reduzir a projeção de crescimento do Brasil para 2011 não surpreendeu a economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria. Há menos de um mês, quando uma missão do Fundo desembarcou no país, Monica, que trabalhou por cinco anos no FMI, encontrou-se com o ex-colega David Vergara, que hoje é diretor assistente do Departamento do Hemisfério Ocidental. Saiu convencida de que a revisão seria feita. Ela só não imaginava que o FMI também rebaixaria a projeção de crescimento para 2012.

Ao reduzir a previsão de crescimento do PIB do país de 4,1% para 3,6%, no ano que vem, o recado que o Fundo está passando, segundo ela, é que o governo precisa fazer um esforço adicional para controlar a inflação:

- Além de trazê-la para o centro da meta, o país também precisa frear o crescimento para 2012 - comenta Monica, traduzindo para o bom português o que está por trás das projeções anunciadas ontem pelo FMI. - O governo está trabalhando com uma projeção de crescimento de 4,5% para 2012, que é totalmente irreal.