Título: Governo rejeita, pela segunda vez, plano de investimentos da Petrobras
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 18/06/2011, Economia, p. 26

Mantega pede novo corte para que valor fique perto de US$224 bilhões

Pela segunda vez, o Plano de Negócios da Petrobras para o período de 2011/2015 não foi aprovado pelo Conselho de Administração da companhia. O ministro da Fazenda e presidente do Conselho da Petrobras, Guido Mantega, em reunião realizada ontem, rejeitou a nova proposta de investimentos apresentada pela estatal. Mantega, que representa a União, o acionista controlador, determinou novos ajustes. A próxima revisão do Plano de Negócios deverá ser levada pela diretoria da Petrobras ao Conselho em encontro extraordinário daqui a dez dias.

Apesar de a Petrobras usar recursos próprios para seus investimentos, o governo federal não quer que a estatal eleve os gastos para compensar a receita que a empresa deixa de ter ao não reajustar os preços da gasolina e do diesel, que tiveram aumento no mercado internacional. Os aumentos estão vetados pelo governo para evitar mais uma pressão sobre a inflação, que já está em alta. Cerca de 60% dos recursos do caixa da Petrobras vêm da venda desses dois combustíveis.

Durante a reunião do Conselho, no escritório da Petrobras em São Paulo, segundo fontes próximas, a companhia teria apresentado uma proposta de investimentos um pouco superior aos US$224 bilhões previstos no plano atual de 2010/2014. O valor, no entanto, já tinha sofrido um corte em torno de US$36 bilhões solicitado pelo Conselho, na reunião anterior, em maio, quando a revisão do plano foi solicitada pela primeira vez.

Primeira proposta era de US$260 bilhões

Mantega teria solicitado novos ajustes para que os valores ficassem próximos aos do plano atual, de US$224 bilhões em cinco anos. Em nota, a Petrobras informou que os estudos e análises de sensibilidade do Plano de Negócios 2011/2015 foram apresentados ontem em reunião ao Conselho de Administração, que por sua vez solicitou "estudos adicionais".

Ainda segundo fontes, a proposta inicial da Petrobras, apresentada em maio, envolvia investimentos da ordem de US$260 bilhões, mas Mantega e os demais conselheiros solicitaram um corte de pelo menos US$35 bilhões.

A Petrobras tinha planos audaciosos de investimentos nos próximos anos, principalmente para desenvolver as reservas gigantescas de petróleo e gás nos campos do pré-sal da Bacia de Santos. Além disso, a estatal está preocupada, segundo técnicos, em aumentar a capacidade de refino para atender ao forte aumento do consumo de derivados que vem ocorrendo nos últimos tempos. Sem expandir a capacidade de refino desde 1980, a Petrobras tem receio de, nos próximos anos, com o aumento da produção de petróleo, tornar-se uma grande exportadora de petróleo cru e forte importadora de derivados.

Projetos de refinarias podem atrasar

Entre os projetos que serão afetados com os cortes de investimentos estão o adiamento do início da operação de algumas refinarias, como o Complexo Petroquímico (Comperj), em construção em Itaboraí, no Estado do Rio. A entrada em operação da primeira refinaria do Comperj para produção de derivados deverá ter seu prazo mantido e iniciar operação em 2013. Mas o início da operação da segunda refinaria, voltada para produzir matéria-prima para o setor petroquímico, inicialmente previsto para 2016, poderá ser adiado. A segunda refinaria Premium II, que será construída no Ceará, também está na lista de projetos que poderão sofrer atrasos. Outros projetos de unidades de fertilizantes também poderão ser prorrogados. A área internacional, que já havia tido investimentos reduzidos no plano atual, também sofrerá maiores cortes.