Título: Fusão Sadia-Perdigão sob más condições
Autor: Rodrigues,Lino
Fonte: O Globo, 19/06/2011, Economia, p. 28

CHAPECÓ (SC) - Dois anos depois de anunciada a fusão entre Sadia e Perdigão - que resultou na BRF-Brasil Foods -, as duas maiores produtoras de carnes de aves e suínos do país, a cidade de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, vive a expectativa sobre a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Se outras empresas do setor temem uma concorrência desleal e predatória com uma gigante do porte da BRF-Brasil Foods, os trabalhadores apontam as dificuldades em convencer a companhia a melhorar as condições de trabalho. Mutilações e enfermidades causadas pelo frenético ritmo de produção levaram ao afastamento de 2.158 trabalhadores dos 6.900 da fábrica da Sadia na cidade nos últimos três anos.

Os baixos salários, somados a esses problemas de saúde sofridos pelos funcionários da Sadia na unidade de Chapecó, não têm atraído novos trabalhadores. A empresa, para manter a produção, tem buscado mão de obra em cidades distantes até 200 quilômetros da fábrica. Ela vem recrutando até índios na região. Nessa unidade são abatidos cerca de cinco mil suínos e pelo menos 400 mil frangos e perus por dia.

Empresa se comprometeu a desacelerar ritmo em 10%

Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Chapecó (Sitracarnes), o número de funcionários afastados por doenças ou lesões ocupacionais na cidade é o maior entre todas as fábricas da Sadia no país.

As condições de trabalho na unidade e o grande número de afastados mereceram uma investigação do Ministério Público de Trabalho (MPT), que acabou em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). A investigação foi iniciada em 2009, e o TAC foi assinado em março deste ano. Além de pagar uma indenização no valor de R$ 2 milhões, a Sadia se comprometeu a rever a jornada de trabalho, com redução em 10%, por exemplo, no ritmo de produção nas áreas de desossa até 2013.

Até a chegada do Ministério Público, os funcionários tinham de destroçar um frango sob água gelada a cada oito segundos na linha de produção. A situação não melhorou muito, mas o sindicato conseguiu que os trabalhadores tenham cinco intervalos de 8 minutos ao longo da jornada, que é de 8 horas e 48 minutos por dia.

Sindicato quer piso de R$ 890, Sadia oferece R$ 750

De acordo com o presidente do sindicato, Jenir Ponciano de Paula, o próximo desafio é convencer a direção da empresa a melhorar o piso salarial dos trabalhadores, que hoje está em R$ 701. Em plena negociação com a empresa, o sindicato quer propor um piso de R$ 890, reposição da inflação (6,44%) e 8% de aumento real. A empresa oferece piso de R$ 750 e reajuste de 7%.

- Já existe uma falta generalizada de candidatos para as vagas na indústria da carne de Chapecó. Com esse salário, muito em breve nem os índios vão querer trabalhar aqui - disse De Paula.