Título: Revista: Mercadante autorizou dossiê aloprado
Autor:
Fonte: O Globo, 19/06/2011, O País, p. 10

Ex-diretor do BB diz que petista foi mentor da compra de documentos contra José Serra na eleição de 2006

SÃO PAULO. O ex-senador petista e hoje ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante não só tinha conhecimento como teria autorizado a compra de suposto dossiê com denúncias contra José Serra, então seu adversário na disputa pelo governo de São Paulo, em 2006, afirma reportagem desta semana da revista "Veja". A operação resultou na prisão pela Polícia Federal de dois dirigentes petistas que guardavam uma mala com R$1,7 milhão em um hotel de São Paulo, no caso que ficou conhecido como "dossiê dos aloprados".

A afirmação de que Mercadante foi o mentor da compra dos documentos contra o tucano teria sido feita ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, em conversa com outros petistas, que gravaram o diálogo. A "Veja" teve acesso às gravações.

"O plano foi tocado pelo núcleo de inteligência do PT, mas com conhecimento e a autorização do senador", disse Veloso aos companheiros. "Ele era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo".

Segundo a "Veja", além do aval de Mercadante, a operação teve a participação do ex-governador peemedebista Orestes Quércia, morto no ano passado, que concorria ao Palácio dos Bandeirantes na época. A avaliação de Quércia e Mercadante, segundo explicou Veloso, era de que a publicação do dossiê contra o Serra poderia levar a eleição paulista para o segundo turno.

"Os dois (Mercadante e Quércia) fizeram uma parceria, inclusive financeira... Parte (do dinheiro) vinha do PT de SP. A parte mais significativa era do Quércia", disse, explicando adiante o teor do acordo. "Em caso de vitória do PT, ele (Quércia) ficaria com um naco do governo do Mercadante".

O R$1,7 milhão levantado serviria para o pagamento dos empresários mato-grossenses Darci e Luiz Antônio Vedoin, que teriam se encarregado de montar um dossiê falso ligando Serra a um esquema da fraudes no Ministério da Saúde. Um grupo ficaria encarregado de avaliar os danos que a divulgação dos documentos causaria à campanha do tucano. Outro cuidaria da divulgação dos documentos na imprensa, e um terceiro cuidaria da arrecadação do dinheiro.

Pelo relato de Veloso, este grupo demorou a conseguir o dinheiro. "O Mercadante disse que estava tudo pronto em São Paulo. Que o Valdebran podia ir porque já estava tudo juntado, e não estava... O Valdebran alugou um avião para ficar apenas duas horas no aeroporto e foi preso quatro dias depois no hotel".

O empresário Valdebran Padilha era do PT de Mato Grosso e foi preso dias antes do primeiro turno junto com Gedimar Passos e a mala com R$1,7 milhão. Procurado por "Veja", Veloso admitiu o diálogo. "Era uma conversa privada. Nunca imaginei que ela pudesse sair do círculo do partido", disse. Veloso classifica sua participação no episódio como "lateral". Perguntado se confirmava as conversas, disse: "Eu estava querendo mostrar às pessoas que não era um "aloprado". Era um desabafo a colegas do partido."

A assessoria de Mercadante informou ontem que ele não se pronunciaria. O diretório do PT em São Paulo soltou nota afirmando que a denúncia é infundada e que tanto a Procuradoria Geral da República como o Supremo Tribunal Federal isentaram Mercadante do caso dos aloprados.