Título: Esforço com freio nos investimentos
Autor: Carneiro, Lucianne; Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 21/06/2011, Economia, p. 21

BRASÍLIA. A Moody"s atribui a elevação da nota à, entre outros motivos, expectativa de redução da dívida pública e ao cumprimento das metas fiscais pelo governo. No primeiro quadrimestre, o setor público fechou com superávit de R$57,315 bilhões, ou 3,14% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) - a meta em reais, atualmente, corresponde a 2,88%. A União sozinha fez economia de R$41,5 bilhões, contra meta própria no período de R$22,9 bilhões e anual de R$81,8 bilhões. Porém, foi um esforço obtido com forte ajuda do freio no ritmo de expansão dos investimentos.

Os desembolsos com obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) cresceram, na comparação com o mesmo mês de 2010, 85% em janeiro, 25% até fevereiro, 9% até março e apenas 4,5% até abril.

O economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, argumenta que não haveria outro caminho senão puxar o freio dos investimentos, pois cortes nas despesas correntes, por exemplo, são mais complexos de serem feitos. Ele lembra inclusive que, de alguns meses para cá, os agentes já não enxergam o cenário fiscal do país como um problema tão grande.

O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, lembra ainda que a relação entre dívida pública e o PIB, de 39,8% em abril, último dado do Banco Central (BC), é outro bom indicador de que as contas públicas do país caminham bem:

- Quais economias hoje no mundo têm esses indicadores? Devemos sim buscar uma redução nos gastos correntes, mas essa mudança de qualidade pode vir ao longo do tempo.

O economista da consultoria Tendências Felipe Salto lembrou ainda que, de janeiro a abril, o ajuste fiscal foi favorecido pelo adiamento de despesas:

- O lado fiscal melhorou, mas ainda é um ponto fraco do Brasil. O governo continua emitindo dívida para capitalizar o BNDES e não impôs um limite ao crescimento das despesas correntes. Isso limita os investimentos e compromete o crescimento sustentado do país.

Ele destacou que o forte aumento do salário mínimo já previsto para o ano que vem vai aumentar muito as despesas com pessoal e com a Previdência e fará com que a equipe econômica não consiga cumprir a meta de superávit primário (receitas menos despesas, sem contar os gastos com juros), de 3,1% do PIB:

- O governo está sacrificando o investimento em 2011. Não vai fazer o mesmo em 2012 e ainda vai ter mais despesas obrigatórias.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, concorda que o governo será pressionado a fazer mais gastos a partir do ano que vem, pois se tornarão urgentes os investimentos em infraestrutura que preparem o Brasil para eventos como a Copa e as Olimpíadas. Essa pressão virá num momento em que a inflação ainda estará fora do centro da meta (de 4,5%), o que poderá prolongar ainda mais o ciclo de alta dos juros e também afetar o crescimento. (Patrícia Duarte e Martha Beck)