Título: Brasil tem nova chancela
Autor: Carneiro, Lucianne; Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 21/06/2011, Economia, p. 21

Moody"s eleva nota de crédito do país e Banco Central espera enxurrada de dólares

Lucianne Carneiro, Daniel Haidar, Chico de Gois e Patrícia Duarte

As medidas do governo para esfriar a economia e segurar a inflação, além do esforço fiscal, fizeram o Brasil subir mais um degrau na classificação de risco de crédito da agência internacional Moody"s. A nota do país, que já tinha grau de investimento - espécie de chancela dada a locais seguros para se investir -, passou de "Baa3" para "Baa2", com perspectiva positiva, o que significa que pode haver nova revisão em até 18 meses. É a segunda elevação do ano. Em abril, a Fitch Ratings já melhorara a nota do Brasil também para o segundo patamar de grau de investimento. Nos bastidores, o Banco Central (BC) espera uma nova enxurrada de dólares, o que serviria para derrubar ainda mais a cotação da moeda americana. Não existe, no entanto, uma nova estratégia sendo desenhada pela equipe econômica para enfrentá-la: considera-seque os recursos não serão para especulação, e sim de longo prazo, com mais qualidade. Economistas, por sua vez, divergem se o novo rating de fato contribuirá para aumentar a entrada de recursos.

Mauro Leos, analista de crédito soberano da Moody"s em Nova York, responsável pela avaliação, alerta que o endividamento bruto ainda está elevado na comparação com outros países com classificação abaixo da do Brasil. Outros riscos são as reduzidas taxas de investimento e de poupança. Segundo relatório da Moody"s, a perspectiva positiva depende de o país alcançar um crescimento econômico com taxas mais baixas, mas sustentáveis, e do cumprimento das metas orçamentárias de médio prazo.

- O nível de endividamento bruto chega a 56% do Produto Interno Bruto (PIB), o que ainda é alto. No Peru (que tem rating de "Baa3"), por exemplo, a dívida bruta chega a 22% do PIB. Essa é uma das vulnerabilidades brasileiras - disse Leos ao GLOBO.

Mais recursos só a médio prazo

O economista-chefe do banco alemão WestLB do Brasil, Roberto Padovani, acredita que a melhora da nota vai aumentar a entrada de investimentos a médio e longo prazos:

- Impacto agora é de médio prazo, porque reforça trajetória de crescimento. Quanto maior a confiança do país, mais você atrai investimentos.

O ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas, ressalta que ela deve se traduzir em redução do custo de capital e atração de investimentos, além de reforçar a valorização do real.

Só este ano, as entradas de dólares superaram as saídas em quase US$40 bilhões segundo o BC, contribuindo para que o dólar não consiga passar, de forma consistente, do nível de R$1,60, tirando o sono dos exportadores. Com a moeda americana muito barata, os produtos brasileiros perdem competitividade no mercado internacional.

- Apesar de a curto prazo a nota da Moody"s não ter tanto impacto, acredito que será importante a médio e longo prazos. À medida que houver uma realocação dos ativos no mundo, na direção dos países emergentes, o Brasil tende a ser beneficiado - afirma o analista da Leme Investimentos João Pedro Brugger.

O sócio da Ativa Corretora Álvaro Bandeira concorda que "a Moody"s não faz entrar recursos amanhã", mas destaca que a melhoria da nota do Brasil tende a motivar maior fluxo de recursos, inclusive para a Bolsa, além de permitir taxas de juros mais baratas para os títulos brasileiros.

Já para o economista da GAP Asset Management Alexandre Maia, a decisão da Moody"s não deve se traduzir em mais ingressos. A maior diferença, diz ele, ocorre no momento que um país recebe o grau de investimento pela primeira vez:

- O significado é pouco expressivo. O mercado já fez o ajuste da avaliação do Brasil e não deve haver mudança no volume de investimentos.

O economista Paulo Rabello de Castro, presidente da agência de classificação de risco brasileira SR Rating e sócio da RC Consultores, concorda que a melhora da nota não altera o ritmo dos investimentos no Brasil.

- Só alteraria se dissesse alguma coisa surpreendente - afirmou Rabello de Castro, para quem a entrada de investimentos estrangeiros já é estimulada pelo aumento da taxa básica de juros, hoje em 12,25% ao ano.

Mantega: velocidade de cruzeiro

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou a elevação da nota, afirmando que o movimento demonstra a correção na condução da política econômica - que está levando a atividade a crescer "em velocidade de cruzeiro", na casa de 4,5%, a inflação a ceder e as condições fiscais a melhorarem. Em comunicado, o presidente do BC, Alexandre Tombini, também salientou que a melhora é reflexos da solidez macroeconômica.

Mantega soube da notícia quando participava da reunião de coordenação com a presidente Dilma Rousseff, que segundo ele ficou satisfeita, e as ministras Miriam Belchior (Planejamento), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).

Na reunião, Mantega expôs um cenário positivo para o Brasil este ano. Disse que a inflação está sob controle e que este mês deverá ficar próxima a zero. Previu que o IPCA fechará 2011 entre 6,15% e 6,2%, dentro da meta, que é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para mais ou menos.

- Hoje a economia brasileira já está crescendo numa velocidade de cruzeiro de 4,5% - declarou, acrescentando: - Conseguimos estabilizar a economia num patamar de 4,5%, o que é muito bom. Acostumamos mal com o crescimento de 7,5% (de 2010).