Título: Conviver com outras pessoas é pouco
Autor: Amorim, Silvia; Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 27/06/2011, O País, p. 4

Coordenadora do programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Enicéia Gonçalves Mendes acredita que "conviver com outras pessoas é bom, mas é pouco. Elas precisam de acesso ao conhecimento".

Carolina Benevides

O que significa inclusão escolar?

ENICÉIA GONÇALVES: Do ponto de vista operacional, significa a escolarização na escola onde todos estão. Falamos de inclusão escolar há anos. E a grande maioria das crianças poderia estar na classe comum, mas é preciso pensar que o que é melhor para a maioria não é o melhor para todos. A inclusão não pode ser imposta. Como impor inclusão para uma escola que não quer assumir determinados alunos?

Como a senhora vê a proposta do MEC de estimular que todos sejam matriculados em escolas regulares?

ENICÉIA: O sistema não se prepara antes, a gente sabe que vai se adaptar já com as crianças em sala. Mas esse modelo do MEC tem poucas chances de funcionar. Para se ter uma ideia, no Brasil, quando se pensa em inclusão, se pensa dos 6 aos 14 anos. Antes disso não há estimulação precoce. Mas crianças com alguma deficiência precisam de educação formal muito cedo. Então, chegam à escola com 6 anos já com defasagem. Fora que a escola comum já trabalha com algum prejuízo. Inclusão em escola de péssima qualidade não é inclusão.

A ideia é oferecer contraturno para quem estiver na classe regular.

ENICÉIA: Estudos já mostram que o melhor é o professor adaptar a aula para a criança, ou ela fica excluída. O atendimento especializado depois da aula não é o ideal. Então, a sala de recursos pode funcionar para algumas coisas, mas não como modelo único.

Mas uma escola regular não é melhor para a socialização?

ENICÉIA: Conviver com outras pessoas é bom, mas é pouco. Elas precisam de acesso ao conhecimento. Precisam ser aceitas, mais respeitadas, precisam de acesso à educação.