Título: Multidão contra a homofobia
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 27/06/2011, O País, p. 9

Com público estimado em 4 milhões de pessoas, Parada Gay de São Paulo teve arrastões e até santos em campanha pelo uso de camisinha

SÃO PAULO. O aniversário de 15 anos da Parada Gay de São Paulo, que reuniu ontem 4 milhões de pessoas, segundo a organização, foi marcado por discursos políticos a favor da criminalização da homofobia, arrastões e assaltos. Movido a música eletrônica, o evento teve início ao som de "Danúbio Azul". A valsa, no entanto, só conseguiu ganhar seguidores quando foi entoada em altos decibéis num ritmo tecno. A intenção era incluir a parada no Guiness Book, como a valsa dançada por um número recorde de casais - o que não havia sido confirmado até ontem à noite.

Com o tema "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!", a marcha foi pontuada por cartazes produzidos pela organização com imagens de modelos seminus fantasiados de santos e as seguintes frases: "Nem santo te protege. Use camisinha". Uma grande marca de preservativos é uma das patrocinadoras do evento. Usando apenas sungas, os modelos fotografados para a campanha desfilaram na parada em cima de um dos trios elétricos. Ao todo, foram representados 16 santos, como São Sebastião, São João Batista e Santo Antônio.

Assim como aconteceu em outros anos, os participantes enfrentaram ação de criminosos. O policiamento, com 1,5 mil homens, não conseguiu conter arrastões. Ao longo do trajeto, grupos de até 20 jovens passavam pela multidão levando mochilas e celulares. O GLOBO presenciou dois arrastões, um na Avenida Paulista, concentração da parada, e outro quando os trios elétricos desciam a Rua da Consolação. Fernando Luz, 17 anos, chorava ao lado de um amigo.

- Quando percebi, já tinham me empurrado e arrancado a carteira e o celular da minha mão - disse.

Eleita a primeira diva da Parada Gay de São Paulo, a cantora Preta Gil pediu respeito à diversidade. Em entrevista coletiva à imprensa, ao lado do governador Geraldo Alckmin, do prefeito Gilberto Kassab e da senadora Marta Suplicy, Preta pregou a criminalização da homofobia. E lembrou da trajetória do pai, o cantor Gilberto Gil, nos anos 70.

- Quando foram exilados, meu pai e minha mãe foram torturados por não expressar sua música. Sou filha da liberdade e acredito na diversidade e na inclusão.

Além da criminalização da homofobia, os grupos gays pedem a aprovação da união civil no Congresso Nacional. O presidente da Associação de Gays Lésbicas Bissexuais e Transgêneros, Toni Reis, ameaçou lançar um movimento para pressionar o Congresso a acompanhar a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que aprovou a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

- Se nada for feito no Congresso vamos trabalhar para entrar com ações para que os projetos a favor dos homossexuais que tramitam no Congresso sejam vistos com prioridade - disse ele, que levantou números sobre as condições dos homossexuais.

A senadora Marta Suplicy disse que está tentando um acordo no Congresso Nacional para mudar o número do projeto de lei 122, que criminaliza a homofobia. Segundo ela, o nome do projeto já foi "demonizado" por setores da sociedade e uma mudança poderia fazer com que tivesse mais facilidade de ser aprovado no Congresso. Ela, no entanto, fez críticas à atuação do legislativa em questões relativas à comunidade homossexual.

- Muitas pessoas já veem o diabo quando escutam o número 122, por isso estou tentando um acordo no Congresso para mudar esse nome. Já o conteúdo teria poucas alterações.

Já Alckmin disse que o STF ouviu a a voz da sociedade.

- A decisão do STF só foi possível graças à consciência de uma sociedade sobre os direitos das pessoas.