Título: PT manda Expedito se calar sobre caso
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 21/06/2011, O País, p. 3
"Se quiserem voltar a investigar, estou totalmente de acordo", diz Mercadante
Roberto Maltchik roberto.maltchik@bsb.oglobo.com.br Isabela Martin isabela.martin@oglobo.com.br
BRASÍLIA e FORTALEZA. A direção nacional do PT mandou o petista Expedito Veloso se calar sobre a gravação na qual ele teria afirmado que o ex-senador e hoje ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, autorizou a confecção de um dossiê contra José Serra, na campanha para o governo de São Paulo em 2006. A ordem de silenciar, segundo a assessoria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal (SDE) - onde Veloso é secretário-adjunto -, partiu do presidente do PT, Rui Falcão.
Ontem, o delegado da Polícia Federal Diógenes Curado Filho, que à época investigou o episódio, disse que as declarações de Expedito Veloso não surpreendem, mas requerem novos esclarecimentos. Curado, atualmente secretário de Segurança de Mato Grosso, afirmou que sempre esteve convicto de que o dinheiro apreendido em 2006 era fruto de caixa dois da campanha petista ao governo de São Paulo. Porém, frisou que, em depoimento à Polícia Federal, Expedito nunca falou sobre o suposto envolvimento de Mercadante:
- Surpreendeu ele falar, não o que disse. Em depoimento, todos negavam tudo. Era como tirar leite de pedra. Acho importante que ele (Expedito) seja ouvido, o que poderá levar a que outras pessoas sejam ouvidas também - disse Curado.
Reunião de Expedito com representantes do PT nacional foi cancelada
Ontem, Expedito despachou normalmente em seu gabinete em Brasília e seguiu a determinação de não falar. O silêncio foi acertado numa conversa por telefone com Rui Falcão, segundo a assessoria do próprio Expedito. Estava prevista uma reunião, na própria SDE, com representantes do PT nacional, mas o encontro foi cancelado.
O PT de São Paulo e a liderança do partido no Senado repudiaram o que classificaram de "ilações requentadas". Procurado pelo GLOBO, Falcão não se manifestou.
Em Fortaleza, Mercadante afirmou ontem que não participou do escândalo dos aloprados. Numa referência indireta à oposição, disse que, se quiserem investigar o caso novamente, ele está "totalmente de acordo":
- Nós tivemos, há cinco anos, uma CPI, em que todas as pessoas envolvidas foram ouvidas. Nós tivemos depois uma representação no Tribunal Superior Eleitoral. Eu nunca fui citado em nenhum desses dois momentos. Nós tivemos um parecer do procurador-geral da República dizendo que eu não tinha qualquer indício de participação nesse episódio. Depois, teve uma votação unânime do Supremo, que me absolveu nessa mesma direção - disse Mercadante, após participar em Fortaleza da abertura da XI Conferência da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras: - Se as pessoas quiserem voltar a investigar esse assunto, estou totalmente de acordo. Estou disposto a participar de qualquer foro em qualquer momento, em qualquer lugar para discutir isso ou qualquer tema da vida pública.