Título: Para reduzir o impacto de sismos e tsunamis
Autor: Sarmento, Claudia
Fonte: O Globo, 24/06/2011, Ciência, p. 24

Cientistas japoneses se reúnem com objetivo de tirar lições da tragédia recente que matou 23 mil pessoas

UM FUNCIONÁRIO DA usina de Fukushima com traje de proteção

ciencia@oglobo.com.br

TÓQUIO. Enquanto os funcionários da usina de Fukushima ainda trabalham para consertar os estragos do terremoto de 11 de março, numa crise que deve se arrastar por mais alguns meses, especialistas se debruçam sobre os dados do desastre para concluir que lições a ciência pode tirar da tragédia que matou 23 mil pessoas. Eles debatem principalmente como seria possível prever e reduzir o impacto de uma nova catástrofe causada pela fúria da terra e do mar.

Para o sismólogo Katsuhiko Ishibashi, um dos mais respeitados do país, a conclusão mais imediata está clara e é radical: o Japão, diz ele, nunca estará suficientemente preparado enquanto mantiver seus 54 reatores nucleares em funcionamento. Não adianta apenas discutir medidas de segurança nas usinas, é necessário rever a política energética do país.

¿ Do ponto de vista sismológico, todas as usinas nucleares japonesas estão em áreas que podem ser afetadas por terremotos e, do ponto de vista da engenharia, é muito difícil reforçá-las ¿ disse Ishibashi, cujo alerta coincide com um aumento dos protestos antinucleares no Japão, um movimento que não tinha repercussão alguma antes de 11 de março. ¿ Tenho dificuldades para apontar uma usina que seja segura.

Ao contrário do que acredita a maioria ¿ e da explicação oficial ¿ Ishibashi não culpa a tsunami que atingiu 15 metros na costa de Fukushima pelo desastre na usina. Para ele, foi o tremor da terra que provocou o colapso do sistema de resfriamento dos reatores.

¿ A Agência de Segurança Nuclear e Industrial concluiu que a onda gigante causou o acidente e instruiu a indústria a adotar medidas emergenciais de proteção nas usinas. Mas as medidas de prevenção ao movimento do solo estão sendo negligenciadas. Medidas contra tsunami não são suficientes ¿ afirma.

Um `abalo-monstro¿ na capital é esperado

Ishibashi faz outra previsão que tira o sono de quem vive em Tóquio, maior região metropolitana do mundo: ele acredita que o deslocamento das placas provocado pelo terremoto de março pode acelerar a ocorrência de um tremor na capital japonesa. Um abalo-monstro na região onde fica a cidade é dado como certo pelos cientistas, mas não há consenso sobre quando poderia acontecer. O governo trabalha com a estimativa de 87% de chance de um tremor de 8 graus na escala Richter até meados do século.

¿ A possibilidade de acontecer um terremoto gigante, de 9 graus, em Tóquio agora é mais real ¿ acredita. ¿ O futuro do Japão é perigoso. A grande concentração populacional em áreas urbanas é muito preocupante.

Terremotos no arquipélago japonês não são surpresa ¿ a área responde por 10% dos tremores do planeta ¿, mas a magnitude do sismo, que atingiu 9 graus e devastou o nordeste do país, superou todas as previsões. Desde o século 20, a terra só havia tremido com intensidade semelhante outras cinco vezes (o maior registro, de 9.5 graus, ocorreu no Chile em 1960).

Cientistas subestimaram a magnitude do terremoto de março. O avanço no sistema de alerta de tsunami tampouco foi suficiente.

¿ Infelizmente ainda existe uma diferença entre a velocidade e a precisão dos alertas de tsunami ¿ concluiu.