Título: UE dará segundo socorro à Grécia, mas o condiciona a novas reformas
Autor:
Fonte: O Globo, 24/06/2011, Economia, p. 18

Resgate pode chegar a 120 bi. Grécia terá de cortar gastos e elevar impostos

MANIFESTANTES FAZEM mais um protesto na Praça Syntagma, em Atenas, contra o plano de austeridade

O PREMIER grego Papandreou, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e o presidente francês, Sarkozy, na cúpula da UE em Bruxelas: Grécia também terá acesso facilitado a fundo europeu

BRUXELAS e ATENAS. Líderes da União Europeia (UE) concordaram ontem em conceder um novo empréstimo à Grécia que poderia chegar a 120 bilhões, segundo o jornal britânico ¿The Guardian¿. O novo socorro está condicionado à aprovação, pelo Parlamento grego, de um pacote de reformas econômicas a ser adotado ao longo dos próximos cinco anos. De acordo com a declaração final da cúpula da UE, realizada ontem em Bruxelas, será estimulada a ¿participação voluntária do setor privado¿ no novo resgate, previsto para o início de julho.

Também ontem, UE e Fundo Monetário Internacional chegaram a um acordo com o governo da Grécia sobre os termos do plano de austeridade que será votado pelo Parlamento grego semana que vem. Além de ser uma contrapartida para o novo socorro, a aprovação do plano é uma exigência para que as duas instituições liberem, também em julho, a quinta parcela do primeiro empréstimo emergencial, de 110 bilhões, acertado com a Grécia em 2010. O valor da próxima parcela é de 12 bilhões (cerca de US$17 bilhões).

Sindicato grego convoca greve de 48 horas

Representantes da UE e do FMI estiveram reunidos ontem, em Atenas, com o novo ministro das Finanças grego, Evangelos Venizelos, para delinear o pacote de reformas de 28 bilhões, que será submetido ao Parlamento em 28 de junho. Entre os itens que foram incluídos na proposta de reforma está ¿uma contribuição solidária¿ de 1% a 5% dos salários de todos os gregos. Os trabalhadores autônomos contribuirão com cerca de 300 anuais, segundo Venizelos. Outra medida será a redução do limite mínimo de renda para pagamento de Imposto de Renda, de 12 mil para 8 mil . A taxas que incide sobre o combustível para calefação também será elevada. A Grécia terá ainda de cortar gastos e ampliar privatizações.

Enquanto os representantes da UE e do Fundo discutiam os detalhes do plano de austeridade, protestos contra o pacote de reformas continuavam nas ruas de Atenas. O anúncio do acordo com UE e FMI levou o maior sindicato do país, o GSEE, a convocar greve de 48 horas para a próxima quarta-feira.

A situação grega dominou os debates da cúpula da UE em Bruxelas ontem e foi contemplada no documento final. ¿Um amplo pacote de reforma, a adoção pelo Parlamento grego de leis-chave relativas à estratégia fiscal, e um programa de privatização devem ser finalizados com urgência nos próximos dias (...) Isso vai prover as bases para um novo programa apoiado pelos parceiros da zona do euro e pelo FMI, permitindo o desembolso a tempo para que a Grécia honre seus compromissos em julho¿, diz o comunicado.

A UE também vai facilitar o acesso da Grécia ao fundo de desenvolvimento europeu. Em vez de exigir cofinanciamento de 50% nos projetos apoiados pelo fundo, como usualmente é feito, a UE vai demandar da Grécia uma contrapartida de apenas 15%, segundo o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso. Há US$22 bilhões disponíveis para a Grécia até 2013. A comissão também vai estabelecer um programa se assistência técnica para assegurar que o empréstimo conjunto de UE e FMI seja aplicado de forma a criar empregos.

¿ A Grécia está fortemente comprometida em dar continuidade a um programa muito importante que implementará mudanças radicais, para tornar nossa economia viável ¿ disse o premier grego George Papandreou ao chegar a Bruxelas.

Merkel pede apoio da oposição grega por reformas

Os líderes europeus não amenizaram o tom do discurso e aproveitaram a cúpula da UE para cobrar a aprovação das reformas. O líder da oposição no Parlamento grego, Antonis Samaras, não foi convidado para a cúpula da UE, mas participou de evento paralelo em Bruxelas. Ele é contrário aos cortes de gastos e aumento de impostos.

¿ Todas as condições devem ser acatadas ¿ disse o primeiro-ministro de Luxemburgo Jean-Claude Juncker.

A chanceler Angela Merkel, por sua vez, que tem adotado um tom duro com os gregos, mandou um recado aos opositores do pacote de reformas:

¿ Em uma situação como essa, todos têm que ficar juntos ¿ disse Merkel.

Mas a posição de Merkel não é unanimidade na Alemanha. Georg Nuesslein, membro conservador da coalizão oficial de centro-direita, publicou artigo ontem em um jornal local dizendo que a zona do euro estaria melhor sem a Grécia.