Título: Caçada a fugitivos da Mangueira deixa 8 mortos
Autor: Costa, Ana Claudia
Fonte: O Globo, 24/06/2011, Rio, p. 15

Na busca por traficantes, policiais do Bope vão ao Engenho da Rainha; PM também faz operação no Juramento

UM POLICIAL em um dos acessos do Juramento: favela terá a presença de PMs por tempo indeterminado

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Oito supostos traficantes morreram ontem em confrontos com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), durante uma operação no Morro do Engenho da Rainha, no bairro com o mesmo nome, na Zona Norte do Rio. Simultaneamente, o Morro do Juramento, a 2,5 quilômetros de distância, em Vicente de Carvalho, foi ocupado por policiais do 41º BPM (Irajá) por tempo indeterminado.

Informações sobre bandidos vieram da Mangueira

A estratégia da polícia, que tem feito cerco em favelas menores, tem o objetivo de conter a movimentação de traficantes que ficaram desalojados de seus territórios, após a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Mangueira. Anteontem, quatro homens, que segundo a PM teriam ligação com o tráfico, foram mortos em ações militares em Senador Camará, Bangu e Niterói.

Nas duas comunidades que margeiam a Avenida Martin Luther King Júnior, moradores são unânimes em afirmar que traficantes foragidos da Mangueira buscaram refúgio nestes locais. Ontem à tarde parentes dos supostos bandidos mortos no Engenho da Rainha reconheceram os corpos. Quatro das vítimas foram identificadas como Marcos Flávio de Almeida Moreira, 20 anos; Diego Cordeiro Neves, 24; João Carlos da Silva, 27 e Robério Antônio da Silva, 28. Custódio, pai de Iraquen Conceição da Silva, também esteve no IML e disse que o filho já não tinha mais envolvimento com o tráfico.

Informações recebidas pelo Disque-Denúncia (2253-1177) desde a ocupação da comunidade da Mangueira também reforçam a tese. No período, sete denúncias anônimas foram feitas citando a presença de traficantes de fora da comunidade no Engenho da Rainha. Entre os dias 18 e 21 deste mês, 65 denúncias citavam o Morro da Mangueira, sendo que 58 delas apontavam localidades onde bandidos estariam foragidos. Além do Engenho da Rainha, foram mencionados o Jacarezinho e localidades de Belford Roxo, Niterói e São Gonçalo. As outras sete denúncias se referiam a problemas da Mangueira.

A ação do Bope no Morro do Engenho da Rainha começou no início da madrugada. Amparados por denúncias obtidas na Mangueira, que informavam a fuga de bandidos para a comunidade, cerca de 30 homens entraram por vários acessos do morro. A ação do batalhão no local começou por volta da meia-noite e se estendeu até as 5h de ontem. Houve confrontos durante toda a madrugada. Na operação, que resultou na morte de oito traficantes, policiais apreenderam dois fuzis, cinco pistolas, duas granadas, 14 carregadores de fuzil, 239 munições da mesma arma, um 1,5kg de cocaína, maconha e pedras de crack e oxi.

Na noite de anteontem, o músico Josimar Amanso Gomes, de 47 anos, foi atingido por uma bala perdida durante um confronto entre policiais do 41º BPM e traficantes do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho. A troca de tiros entre policiais e traficantes começou por volta das 18h de quarta-feira, quando a PM foi ao Juramento, após informações de que traficantes de outras favelas da mesma facção criminosa estavam no local. O músico chegava em casa na Rua César Muzio quando foi atingido no peito. Levado para o Hospital Getúlio Vargas, ele foi operado e continua internado em estado grave.

De acordo com o comandante do 41º BPM, tenente-coronel Alexandre Fontenelle, a ação policial busca evitar que traficantes da maior facção criminosa do Rio de Janeiro utilizem o morro para esconderijo ou mesmo sair para praticar bondes e roubos de carros na região. Ontem policiais ocuparam duas lajes que eram utilizadas por traficantes para observar a chegada da polícia, no Juramento.

¿ Vamos engessar o grupo, para que não usem o Juramento como base para invadir outras favelas ¿ disse Fontenelle.

Com a ocupação da Mangueira, traficantes estariam se dividido em grupos para tentar encontrar outros territórios. A Favela da Mangueirinha, em Duque de Caxias, segundo informações do serviço de inteligência da PM, funcionaria como um entreposto para criminosos, devido à proximidade com vias expressas e rodovias.

COLABOROU: Athos Moura

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