Título: Eleições por todas as partes
Autor: Carlos, Newton
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2009, Opinião, p. 17

O mapa político da América Latina pode mudar radicalmente até 2012. Não se sabe o que acontecerá com uma enxurrada de eleições, sendo 12 presidenciais. Os mais preocupados com o que poderá vir depois do triunfo de Rafael Garcia no Equador, onde um quadro de instabilidade é substituído pela presença em palácio de um político considerado imprevisível e com forte apoio nas urnas, falam de polarização entre ¿democratas reformistas¿ e ¿autocratas populistas¿.

Mas há um conjunto de variantes escorregadias. A erupção de votos de indígenas tomará uma única direção? O ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Enrique Iglesias diz que a classe média, afetada pela crise global em seus níveis de vida, pode causar ¿perturbações¿. O que significaria fugas do centro político.

Analistas da Organização para o Desenvolvimento e Cooperação (OECD, na sigla em inglês) tratam de lembrar que ¿historicamente, eleições na América Latina resultam em incertezas políticas¿. A simples lembrança disso, envolvendo estudos e projeções de uma entidade de países ricos, traduz redobradas inquietações de quem faz negócios em nosso continente. Na OECD já se instalou a convicção de que haverá ataques cerrados ao livre mercado.

Joaquim Roy, da Universidade de Miami, diz que o eixo principal das divisões reinantes se situa entre uma esquerda moderada, de tendência social-democrata, e neopopulistas. Também se fala em ¿socialistas populistas¿, que seriam, grosso modo, a turma do Hugo Chávez, em oposição a ¿democratas reformistas¿. As preocupações se voltam sobretudo para as eleições no Brasil, México, Colômbia, Argentina, Peru e Chile. O México ¿ cujo peso se esvai numa quase guerra civil, com cartéis das drogas com poder inclusive político ¿ cede espaço ao Brasil no painel dos ¿grandes¿ latino-americanos.

O governo mexicano é um dos raros na América Latina com feições nitidamente conservadoras. Perdeu as eleições parlamentares de julho e terá de enfrentar em condições diversas as presidenciais só em 2012. Num mesmo plantel se esvazia o Peru, o mais fiel seguidor do receituário neoliberal, com o governo de Alan Garcia sob permanente assédio do partido Nacionalista Peruano, do ¿socialista populista¿ Ollanta Humala, alvo de investida judicial a qual Garcia espera que o afete politicamente.

Mas Garcia ainda enfrenta ações audazes da não falecida guerrilha do Sendero Luminoso. Quatorze soldados foram mortos numa emboscada e foguetes disparados contra um helicóptero, no qual estava o comandante das Forças Armadas. Na Colômbia, o linha dura Álvaro Uribe dificilmente abrirá mão de candidatar-se pela terceira vez. Mas terá de enfrentar forte coligação de forças de centro-esquerda, liderada pelo senador Gustavo Petro. Nela estaria Ingrid Betancourt, uma das mais notáveis ex-reféns das Farc e militante do Partido Liberal, adversário histórico dos conservadores de Uribe.

No Chile, onde a escola neoliberal fez seus primeiros experimentos latino-americanos, a Concertación, coligação de centro-esquerda que governa o Chile desde a queda da ditadura, tem pela frente forte coligação de centro-direita liderada pelo empresário Sebastian Pinñera, dono da Lan Chile, e infestada de pinochetistas.

O candidato oficial, Eduardo Frei, filho do ex-presidente Frei, que fez autocrítica depois de complacência velada com o golpe de Pinochet, comanda uma Concertatión desgastada, com rachas profundos. Mesmo assim conseguiu um bom início de campanha, contando sobretudo com a popularidade da presidente Michele Bachelet. Chegou a 75%, um dos mais altos índices conseguidos por um presidente latino-americano.

Mas Piñera se mostra com forte capacidade de impulso. As pesquisas alteram altos e baixos. No momento, Piñera está à frente. ¿A sombra de Pinochet recai sobre o Chile¿, escreveu alguém. São talvez as eleições presidenciais mais disputadas nessa enxurrada na América Latina.

Um fato histórico é o racha no Partido Socialista, do presidente Salvador Allende, derrubado por um golpe de estado em 1973, um dos acontecimentos mais traumáticos já sofrido pela política em nosso continente. A cisão é comandada pelo senador Alejandro Navarro. Com ele se mandaram sete membros do comitê central. Navarro é confesso admirador de Hugo Chávez. No Uruguai, vai à frente nas pesquisas um ex-guerrilheiro tupamaro, candidato de uma frente ampla