Título: Polícia Federal já investiga ataques de hackers
Autor: Cruz, Melissa; Rosa, Bruno; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 25/06/2011, Economia, p. 23

Digital & Mídia

Sites de IBGE, MinC e Infraero também sofrem invasões. Governo diz que elabora plano de defesa digital

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Dois dias após o início de uma série de ofensivas hackers contra sites do governo, a Polícia Federal (PF) afirmou que abriu uma investigação para apurar os responsáveis pelo ataque às páginas eletrônicas da Presidência da República, do Senado e da Receita Federal, entre outros órgãos. A PF informou que já tem alguns suspeitos, mas não quis revelar nomes.

Os agentes da PF afirmaram que terão dificuldades para propor a punição dos hackers, já que não existe lei específica que classifique como crime a invasão de domicílios on-line. Para a PF, a alternativa será indiciar os invasores no Artigo 265 do Código Penal. Pelo artigo, é crime perturbar um serviço de utilidade pública. A Polícia Federal vê no ataque dos hackers um motivo a mais para que seja votado o projeto de lei 34/99, em tramitação na Câmara dos Deputados. O texto tipifica o crime de invasão de sites e estabelece penas mais rigorosas para este tipo de fraude.

O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) disse ontem que já está à frente de um projeto de pesquisa para desenvolver tecnologias de defesa contra ataques de hackers a sites do governo federal e de instituições públicas. Segundo o secretário de Política de Informática do MCT, Virgílio Almeida, a ideia conta com a colaboração do Comitê Gestor de Internet (CGI) e do Ministério da Defesa.

- Estamos empenhados em desenvolver tecnologias para nos defender desses ataques.

"Governo vivenciará maior número de ataques"

Ontem, os sites do IBGE e do Ministério da Cultura (MinC) foram atacados por hackers. A primeira ofensiva ocorreu às 4h, no site do IBGE (que só voltou ao ar às quatro da tarde). O segundo ataque foi entre 7h e 8h, no site do MinC. Já por volta das 14h, internautas não conseguiam acessar o site da Infraero, no qual são divulgados atrasos e cancelamentos de voos. O acesso voltou às 14h20m, mas a navegação ficou instável.

Segundo a Infraero, o site estava em manutenção preventiva para evitar problemas e não sofreu ação de hackers. Caso volte a apresentar instabilidade, os passageiros devem se informar nos sites ou telefones das próprias companhias aéreas.

A assessoria do MinC informou que, entre 7h e 8h, foi detectada uma sobrecarga de acesso causada por apenas um endereço IP. "A ameaça foi detectada e logo neutralizada", disse. O coordenador de infraestrutura tecnológica do MinC, Hugo Gois Cordeiro, informou que o IP era do Brasil e tudo indica que hackers tenham tentado derrubar o sistema do ministério. Entretanto, de acordo com a pasta, não houve qualquer dano. Ninguém reivindicou a autoria do ataque.

O site do IBGE foi desfigurado. No lugar da página inicial, foi publicado o texto "IBGE Hackeado - Fail Shell" e uma imagem com um olho representando a bandeira do Brasil. Os hackers se apresentaram como um grupo nacionalista e deixaram a seguinte mensagem: "Este mês, o governo vivenciará o maior número de ataques de natureza virtual na sua história". O hacker de apelido Fireh4Ck3r reivindicou a autoria da invasão.

Segundo o jornal "Folha de S. Paulo", o grupo LulzSec Brasil - que derrubou na quarta-feira as páginas da Receita Federal, da Presidência da República e da própria Petrobras - divulgou ontem de manhã um arquivo com dados pessoais de funcionários da Petrobras, inclusive CPFs. A empresa, no entanto, afirmou que não houve violação à sua rede interna e prometeu que irá investigar a origem das informações. No perfil do grupo no Twitter, não há qualquer menção a uma possível lista de vazamentos de dados.

O Ministério dos Esportes, alvo de hackers na última quinta-feira, afirmou que os dados vazados sobre supostas fraudes no repasse de recursos para os estados que terão jogos da Copa de 2014 são falsos. Um levantamento mostrou que o órgão sofreu duas tentativas de ataque.

"Delegados não sabem nem ligar um computador"

O LulzSec também divulgou dados pessoais da presidente Dilma Rousseff e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. A Presidência informou que foram feitos serviços de manutenção em alguns sites do governo para deixá-los mais seguros contra acessos de hackers.

- O grupo percebeu, ao derrubar um site, que o sistema era frágil. Por isso, passou a fazer uma série de ações nesse sentido. Não há um incentivo dentro dessas instituições para proteger seu sistema - diz uma fonte ligada à segurança.

Para o delegado José Mariano de Araújo Filho, especialista em crimes eletrônicos, é preciso modernizar a investigação digital.

- Muitos delegados que investigam crimes digitais no país não sabem ligar um PC. Precisamos de ferramentas, como informações do endereço de IP, para investigar os crimes digitais. O projeto de lei que tramita no Congresso desde 1999 já está velho e não atende mais às necessidades da sociedade.