Título: Incentivo ao estupro nas celas do país
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 25/06/2011, O Mundo, p. 28

Presos políticos afirmam que carcereiros estimulam prática como punição

TEERÃ. A briga nas altas instâncias do poder não impede novas e cruéis violações dos direitos humanos no Irã. De acordo com ativistas, agentes penitenciários estão distribuindo preservativos para que criminosos estuprem jovens prisioneiros políticos trancafiados nas cadeias do país. A denúncia foi feita através de cartas dos detentos obtidas pelo jornal britânico ¿Guardian¿.

Pelo menos 26 presos conseguiram burlar a vigilância das prisões e enviar cartas às famílias, segundo o diário. Nos relatos, contam como os guardas incentivam o estupro como uma forma extra de punição àqueles acusados de agredir o regime islâmico. Gritos ou mesmo pedidos de socorro das vítimas são completamente ignorados.

Uma das cartas, publicada no site Kaleme ¿ ligado a um dos líderes do opositor Movimento Verde, Mir Hossein Moussavi ¿, é assinada por um detento identificado como Mehdi Mahmoudian, integrante do partido reformista Frente de Participação do Irã. Detido desde os protestos que se seguiram à duvidosa reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009, ele conta que os presos políticos são trancados e abusados pelos criminosos mais perigosos, como assassinos e integrantes de gangues.

¿Em várias celas, o estupro se tornou um ato comum e aceitável. Os que têm rostos bonitos e não podem se defender ou oferecer propina em troca de proteção são forçados a passar a noite em outras celas (para serem estuprados). A situação é tão grave que a pessoa estuprada normalmente tem um `dono¿, que chega até a alugá-la e, depois, vendê-la para outro criminoso¿, escreveu Mahmoudian, transferido após a denúncia para uma cela solitária na prisão de Rajaeeshahr, a 20 quilômetros de Teerã.

Os crimes sexuais nas cadeias iranianas vinham sendo denunciados pela Anistia Internacional ¿ que colheu depoimentos de vítimas para um relatório publicado no ano passado. Há, ainda, registro de abusos contra homens e mulheres cometidos pelos próprios agentes carcerários. O governo nega as acusações, mas a entidade exigiu, mais uma vez, que essas denúncias sejam investigadas.