Título: A divisão está no DNA do PT, admite Maia
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 26/06/2011, O País, p. 11

Presidente da Câmara se prepara agora para administrar a chamada "pauta bomba", que eleva gastos dos governos

Depois da crise política que trouxe à tona novamente o racha na bancada do PT na Câmara e terminou com a primeira dança de cadeiras no governo Dilma, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que "estava com vontade de falar". Ele esteve no centro da disputa travada entre deputados petistas pelo cargo de articulador político do governo, no lugar do ex-ministro Luiz Sérgio. A bancada perdeu a briga, com a escolha de Ideli Salvatti pela presidente Dilma Rousseff. Maia minimizou a disputa interna, afirmando que as divisões estão "no DNA do PT" e que a briga por espaços é parte do dia a dia da política. Passado o pior da tensão interna no PT, o presidente da Câmara se prepara para administrar agora a votação no plenário da chamada "pauta bomba", que reúne propostas polêmicas nas áreas de Saúde e segurança pública: a Emenda 29, que pretende aumentar o repasse obrigatório da União para o setor; e a PEC-300, que estabelece piso salarial para os policiais estaduais e bombeiros e que, se aprovada como está, pode aumentar em mais de R$30 bilhões por ano os gastos dos governos estaduais com salários do setor.

Isabel Braga

Cristiane Jungblut

O PT da Câmara está dividido desde sua eleição à presidência. Como resolver isso?

MARCO MAIA: A existência de frações, de tendências no PT, está no seu DNA. As disputas que tivemos dentro da Câmara fazem parte desta identidade do PT. O resultado da minha eleição não vai de encontro ao maniqueísmo das correntes ou opiniões políticas do PT. Tanto que se deu com a participação de integrantes de várias tendências. Não há uma divisão que tenha reflexos na condução da política da bancada dentro da Câmara. Se fosse verdade, não teríamos votado tudo o que votamos.

A bancada da Câmara queria manter um representante na articulação política...

MAIA: Não enxergamos esse debate como sendo disputa entre PT da Câmara e do Senado. O PT é um partido só. As ministras (Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti) são representantes do partido. Não enxergo crise ou dificuldade de relacionamento com elas.

Haverá amplo debate sobre a Emenda 29, diz

Mas há insatisfação do PT na Casa, por ter sido preterido?

MAIA: O PT está muito bem representado no governo da presidente Dilma, não há insatisfação. É óbvio que a Câmara gostaria de indicar deputados, ter participação maior no governo com quadros políticos que conhecem os ritos do Parlamento. Mas não é um problema. A decisão sobre quem deve fazer a interlocução do Executivo com o Legislativo é da presidente. Temos que respeitar.

Como está agora a sua relação com a presidente Dilma?

MAIA: É a melhor possível. Desde que assumi a Presidência da Câmara, tenho conversado com a presidente frequentemente. Conheço a Dilma há mais de 20 anos. Tive a oportunidade de trabalhar com ela no governo Olívio Dutra. Não há nenhum problema de relacionamento.

Com a ministra Ideli já houve encaminhamento das demandas do Parlamento, como a validade dos restos a pagar de 2009?

MAIA: É atribuição dos parlamentares apresentar emendas ao Orçamento. Temos medidas provisórias e outras matérias que precisam e devem ser encaradas como prioridade. Como a regulamentação da Emenda 29, por dialogar com a questão da Saúde, que é um dos principais desafios para o governo Dilma. Então, Ideli e eu acertamos que teremos uma sintonia fina.

Existe um pedido do governo para que matérias da chamada "pauta bomba" não sejam votadas imediatamente?

MAIA: É equivocado afirmarmos que essas são bombas, ou que são problemas para o governo. Todas as medidas que votamos têm impacto financeiro.

E a Emenda 29?

MAIA: Não é razoável que uma matéria dessas, que já tramita há tanto tempo, permaneça sem que haja uma definição.

Mas o governo teme que no Senado seja elevado de 7% para 10% o percentual da receita a ser aplicado na Saúde.

MAIA: É óbvio que há essa preocupação, por isso que vamos ter, daqui até a votação na Câmara, um amplo debate. Para permitir que aquilo que for discutido aqui possa, no Senado, ser referendado. Se houver responsabilidade, sensibilidade dos parlamentares, vamos chegar a um acordo, sem sobressaltos e armadilhas, seja para União, estados ou municípios.

E a PEC 300?

MAIA: Ela tem ingredientes que vão ensejar um debate maior. Não há pauta proibida de ser discutida na Câmara, mas essa matéria só poderá voltar ao plenário se houver um acordo, um consenso sobre sua votação. Não colocarei em votação a PEC 300 ou outra matéria com esse grau de explosividade sem que haja esse consenso.