Título: Pescadores cobram mais incentivos
Autor:
Fonte: O Globo, 26/06/2011, O País, p. 13

No Rio, eles têm que "poupar no verão para comer no inverno"

Pescador há mais de 35 anos, João Rodrigues, de 58 anos, é a terceira geração da família que ganha o sustento passando de 15 a 20 dias por mês em alto-mar. Morador de Tanguá, no Rio, nos últimos meses ele tem trabalhado na pesca de atum. Sua função é ser olheiro, o homem que fica preso ao mastro para avistar cardumes. Durante um tempo, João acreditou que o Ministério da Pesca fosse melhorar a vida dos pescadores, mas agora diz que "só melhoram a vida dos armadores".

- O governo sabe que tem o período do defeso da sardinha e que a isca para pescar atum é a sardinha. Sabe também que nem sempre a gente consegue o salário-desemprego, mas isso não muda. A gente tem que poupar no verão para conseguir comer no inverno - diz João, que acredita que o governo também deveria intensificar a fiscalização do "patrão". - Tem gente que já não quer pagar FGTS, dar aviso prévio, e isso não é visto.

"Vou ganhar mais sendo o cozinheiro do barco"

Companheiro de João no barco Star Fish I, Mauro Almeida da Silva, de 47 anos, prepara-se para deixar a pesca e virar cozinheiro "mesmo que seja num barco".

- A gente é contratado, o resultado da pescaria paga as despesas, cada vez mais altas com diesel, e é divido com o patrão, que fica com 50%, e os pescadores, que dependendo da função podem ganhar entre R$700 e R$1.300 por mês - conta Mauro. - É difícil. Há dois, três anos, vimos que o governo dava incentivo para quem vinha de fora, o diesel para eles era mais barato. Por conta dessas coisas, eu vou fazer curso de cozinheiro. Pesquei a vida toda, mas vou ganhar mais sendo o cozinheiro do barco.

Segundo Mauro, a vida dos pescadores pode melhorar quando um ministro "que souber distinguir peixe assumir":

- Tem que conhecer o mercado. A gente não tem um lugar para descarregar o peixe, a Marinha abre curso para moço de convés, que o patrão pede para fazer, e exige o segundo grau completo (atual ensino médio). Só que muito pescador não estudou até lá, a maior parte não tem segundo grau. Eu, por exemplo, parei na sétima série. E aí, como é que a gente faz?

Para João, a situação ficaria um pouco melhor se o governo incentivasse a criação de cooperativas e fiscalizasse o descarrego do peixe.

- Outro dia, levamos o barco para descarregar em Santa Catarina. A gente não tem a roupa certa, entra no frigorífico de qualquer jeito, corre risco - diz ele, que trabalha entre o Leste de Vitória e o Rio Grande do Sul.