Título: Cristina entra na briga pelo segundo mandato
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 22/06/2011, O Mundo, p. 29

Favorita, presidente argentina oficializa busca pela reeleição, e adversários questionam saúde mental e emocional

BUENOS AIRES. Dois dias antes do fim do prazo estabelecido pelas leis eleitorais, a presidente argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem sua decisão de buscar um segundo mandato nas eleições do próximo dia 23 de outubro. Depois de vários meses de mistério e especulação, Cristina assegurou que "sempre soube o que tinha e devia fazer" e deixou claro que a decisão de buscar um terceiro mandato da família Kirchner surgiu no mesmo dia em que seu marido e antecessor, Néstor Kirchner, (2003-2007), morreu vítima de um ataque cardíaco.

Cristina ainda não revelou o nome de seu companheiro de chapa, e lembrou que no dia em que foi realizado o velório de Kirchner na Casa Rosada, "milhares e milhares de pessoas passaram para despedir-se dele pela última vez e gritaram "Força Cristina!"".

- Espero ser uma ponte entre as novas e velhas gerações - enfatizou a presidente em cadeia nacional de rádio e TV, usando um vestido preto, como faz desde outubro do ano passado.

Na plateia estavam ministros, congressistas aliados e também artistas que nos últimos anos se uniram ao projeto kirchnerista e passaram a defender publicamente o governo. Todos aplaudiram de pé o anúncio da presidente - que não era esperado para ontem. Segundo informações extraoficiais publicadas nos últimos dias na imprensa local, Cristina pretendia lançar sua candidatura no fim desta semana. Mas, como a própria presidente admitiu, as pressões eram grandes, e Cristina terminou decidindo antecipar o anúncio. Ao contrário do que era esperado, Cristina evitou fazer um grande ato no Teatro Argentino, na cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires, onde anunciou sua candidatura em 2007. Segundo ela mesma admitiu, seria difícil estar lá sem a presença de Néstor Kirchner.

Presidente enfrentará cinco adversários nas urnas

Não foi um discurso longo - apenas alguns minutos bastaram para definir o panorama eleitoral de outubro. Nas próximas eleições, a presidente terá como adversários os deputados Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, e Ricardo Alfonsín, da União Cívica Radical (UCR); o ex-presidente Eduardo Duhalde (2002-2003); o governador da província de San Luis, o peronista Alberto Rodríguez Saá (irmão do ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá, que governou o país durante uma semana em dezembro de 2001); e o socialista Hermes Binner, atual governador da província de Santa Fe. Todos, com exceção de Carrió, achavam que Cristina seria mesmo candidata.

- Devo reconhecer que ela conseguiu me enganar com seu choro e sua família - declarou Carrió, pouco depois da decisão presidencial.

Segundo a deputada, "Cristina protagonizou uma grande farsa e agora pode tirar o vestido preto e disputar a Presidência mostrando seu programa de governo".

Carrió referia-se a uma sucessão de declarações da presidente argentina que, nos últimos meses, confessou sentir-se "para baixo" e muitas vezes chorou em atos públicos ao mencionar o ex-presidente Kirchner. Para a deputada e também candidata presidencial, Cristina deu indícios de que não disputaria a reeleição "e conseguiu enganar muitos argentinos, entre eles eu mesma".

Ontem, a presidente, que segundo as pesquisas mais recentes está em primeiro lugar, com chances até mesmo de vencer no primeiro turno, também mencionou opiniões de analistas sobre seu estado de ânimo e até mesmo de saúde mental. Nos últimos meses, importantes jornais e revistas argentinas, entre elas a "Noticias", publicaram reportagens sobre a suposta depressão de Cristina e também sobre outros supostos problemas de saúde da presidente, como contraturas cervicais, vertigens e até mesmo ataques de pânico.

- Muitos viraram psicólogos que analisavam meu estado de ânimo, e médicos que me diagnosticavam - menosprezou Cristina.

O único problema de saúde confirmado pelos médicos da Casa Rosada foram vários episódios de pressão baixa que obrigaram a presidente a modificar sua agenda e cancelar viagens internacionais.