Título: Confiança de grego
Autor:
Fonte: O Globo, 22/06/2011, Economia, p. 21

Governo da Grécia obtém vitória no Parlamento. Expectativa agora é se conseguirá aprovar medidas de austeridade

Do New York Times*

Opremier grego, George Papandreou, obteve um voto de confiança crucial, o que abre caminho para a aprovação das medidas adicionais de austeridade. Pouco depois da meia-noite, hora local (18h de Brasília), o Parlamento aprovou o voto de confiança por 155 votos - toda a bancada do partido governista, o Pasok - a favor, 143 contra e duas abstenções. Esse voto de confiança afasta o fantasma de eleições antecipadas e de um governo paralisado, o que, temia-se, poderia empurrar a Grécia para o calote e o restante da zona do euro em um pânico financeiro semelhante ao que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.

Agora Papandreou tem um desafio maior. Na semana que vem, o Parlamento vai votar as novas medidas de austeridade, que incluem alta de impostos, cortes de salários e privatizações. Essas medidas foram exigidas por União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) para liberar a próxima parcela do socorro acertado no ano passado, de 110 bilhões. A parcela, de 12 bilhões, deve ser liberada em julho, para que o governo honre seus compromissos.

Antes da votação, Papandreou pediu que parlamentares e cidadãos mostrem responsabilidade e aproveitem a oportunidade de salvar o país da moratória.

- O caminho é difícil, mas há luz no fim do túnel - disse o premier, ressaltando que o voto de confiança representaria um "contrato com o povo". - Nós mesmos recuperaremos nossa soberania. Somente nós, gregos, temos o direito, a responsabilidade e a capacidade de mudar nosso país.

Bolsas mundiais fecham em alta

Mas na Praça Syntagma, em frente ao Parlamento, cerca de 7 mil pessoas chamavam os parlamentares de ladrões e levavam cartazes que diziam "Nós não sairemos daqui enquanto eles não saírem". Eles batizaram a manifestação de "não confiança".

- Eles destruíram nosso país - disse Terpsichore Theofili, de 23 anos, estudante de História. - Eles deveriam ir embora, não nós.

Os líderes da UE vão discutir a situação da Grécia em sua reunião de cúpula, amanhã e sexta-feira. Mas o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, prometeu fazer um apelo para que eles concedam à Grécia mais facilidade de acesso aos fundos estruturais europeus.

No Parlamento, Papandreou ainda defendeu os credores estrangeiros, que se tornaram o para-raios da ira popular:

- Eles estão nos ajudando em um momento difícil.

Durante o debate, que durou várias horas, o líder da oposição, Antonis Samaras, voltou a pedir a renegociação do novo pacote de austeridade.

- Não daremos consenso para um erro - afirmou Samaras. - Estamos, no entanto, dispostos a dar consenso à correção de um erro.

Os conservadores chegaram a se retirar da sala, mas voltaram para a votação.

Nem mesmo no Pasok o apoio para as medidas de austeridade está garantido. O deputado socialista Panayiotis Kouroublis afirmou que seu voto de ontem não significava apoio incondicional ao governo:

- Votarei pelo governo hoje, mas não estou lhe dando carta branca.

A expectativa de que o Parlamento grego daria o voto de confiança fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechar em alta ontem. O Ibovespa, referência do mercado, subiu 0,42%, aos 61.423 pontos, o terceiro pregão seguido de valorização. Nesse período, o índice acumula ganho de 0,89%. No mês, no entanto, a Bolsa ainda acumula perda de 4,95%. A aversão a risco diminuiu no mercado financeiro mundial, e os preços de commodities avançaram. A alta no mercado brasileiro, no entanto, foi menor que a de Wall Street e Europa. Segundo analistas, faltou fluxo de recursos na Bolsa. O volume financeiro negociado foi de R$4,609 bilhões.

- A Bovespa subiu na expectativa de que o governo grego não vai cair, mas por falta de volume não acompanhou a alta de outros mercados - afirmou a economista da Lerosa Investimentos Alexandra Almawi.

em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,91%, enquanto o S&P 500 avançou 1,34% e atingiu o melhor nível em dois meses. Já o Nasdaq teve alta de 2,19%, a maior expansão desde outubro. Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 1,44%, a de Frankfurt, 1,89% e a de Paris, 2,04%.

(*) Com "El País" e agências internacionais