Título: Frustração coletiva
Autor: Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 13/08/2009, Política, p. 6

Aposentados saem de reunião com o governo sem saber valor do reajuste nos benefícios do INSS e incomodados com pressão para engavetar projetos de interesse da categoria. Os ministros José Pimentel (E) e Luiz Dulci encabeçaram as negociações com os beneficiários do INSS

Centrais sindicais, aposentados e pensionistas saíram frustrados da reunião de ontem com o governo para discutir o reajuste dos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para aposentadorias acima de um salário mínimo. Além de sair do encontro sem uma definição de valores ¿ não há estimativa oficial, mas a equipe econômica projeta percentual entre 1% e 1,5% de ganho real ¿, a categoria ainda ficou com um gosto amargo na garganta. A intenção do Palácio do Planalto é conceder o aumento caso os aposentados aceitem a retirada da pauta do Congresso de quatro projetos que elevariam consideravelmente os gastos previdenciários. O governo propõe a apresentação de um substitutivo que englobe as propostas, mas o texto ainda não foi elaborado. O reajuste, previsto para ocorrer em janeiro de 2010, beneficiará cerca de 8 milhões de pessoas.

¿Cada um desses projetos tem uma ansiedade dos trabalhadores. Nós precisamos que o governo faça uma proposta para cada um deles: como é que vai ficar o aumento dos aposentados, a política do salário mínimo, qual é a proposta para o fim do fator previdenciário e como é que o governo recupera as aposentadorias?¿, questionou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT¿SP), o Paulinho da Força, presidente da Força Sindical. O parlamentar definiu o encontro de ontem como ¿improdutivo¿.

As negociações com as centrais sindicais e representantes dos aposentados foram lideradas pelos ministros Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e José Pimentel, da Previdência Social. Segundo participantes do encontro, o governo preferiu não apresentar um número para que o dado não se torne oficial antes mesmo do acordo. Mas a estratégia provocou insatisfação. ¿Foi frustrante. Nós não vamos aceitar o pacote¿, antecipou Antônio Santo Graff, um dos diretores da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap). O grupo não abre mão da proposta que recompõe as perdas de benefícios dos aposentados e trata do índice de correção previdenciária. O projeto aguarda aprovação de duas comissões da Câmara dos Deputados.

Congresso Ainda na noite de ontem, a Cobap se reuniu com parlamentares para pressionar o Congresso a votar outra medida de interesse da categoria. A proposta, que estende o reajuste do salário mínimo a todos os beneficiários da Previdência Social, está pronta para ser votada pelo plenário da Câmara. E a previsão é de que a categoria continue as manifestações para a aprovação da medida. Há três meses, a categoria parou uma sessão da Casa com esse intuito.

¿Quem tem pressa é o governo, pois 2010 é ano de eleição. Nós vamos pressionar os deputados para aprovar os projetos¿, afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique. ¿O governo sabe que se a gente não concordar (em retirar os projetos), nós vamos ficar lá fazendo pressão e os deputados em época de eleição votam (favoráveis às medidas)¿, avalia o deputado Paulinho da Força. Na próxima terça-feira, haverá um novo encontro para a discussão do reajuste da aposentadoria.