Título: Após recuo de Dilma, PT tenta derrubar sigilo eterno
Autor:
Fonte: O Globo, 23/06/2011, O País, p. 5

Collor e Sarney deverão ficar isolados; senador de Alagoas chegou a alegar suposta troca de mulheres bonitas pelo Acre

BRASÍLIA. Com o sinal verde do Planalto, o PT do Senado retomará a linha de frente na defesa da votação, o mais rapidamente possível, do projeto que acaba com o sigilo eterno dos documentos oficiais considerados ultrassecretos. Segundo interlocutores do governo, a presidente Dilma Rousseff ficou irritada com as críticas recebidas pelas idas e vindas em relação ao projeto. O texto que acaba com o sigilo eterno, aprovado na Câmara, é criticado pelos ex-presidentes Fernando Collor (PTB-AL), relator da matéria, e José Sarney (PMDB-AP).

Partiu de Dilma determinação para que o Itamaraty se posicionasse publicamente, derrubando os argumentos dos dois de que a divulgação de documentos diplomáticos poderia criar problemas para o Brasil. Ontem, depois de declarar na véspera que a base estava liberada para aprovar no Senado o texto do projeto aprovado na Câmara, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, informou aos líderes que a posição do Planalto é pela manutenção do requerimento para votação da matéria em regime de urgência.

O requerimento já foi protocolado na Mesa pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-AP).

- Eu apanhei por uma coisa que nunca defendi - reclamou Dilma com seus articuladores no Congresso, apesar de ela ter afirmado, antes de voltar atrás de novo agora, "que era público e notório" que ela tinha mudado de opinião.

O líder do PT, Humberto Costa (PE), comemorou a nova posição do Planalto a favor do fim do sigilo eterno e anunciou a retomada da posição inicial do partido de aprovar logo, e sem alterações, o texto da Câmara:

- Se o Collor apresentar emendas, vamos tentar derrubar no plenário. Mesmo após o reposicionamento do Planalto, na bancada petista, o senador Delcídio Amaral (MS) é um dos únicos que defendem alterações para manter o texto original enviado pelo Planalto, que prevê criação de uma comissão para analisar a necessidade de manutenção do sigilo em casos de soberania, documentos militares de fronteira e diplomáticos.

Com exceção do PTB e de poucos senadores, Collor e Sarney devem ficar isolados. O líder Renan Calheiros (PMDB-AL) e senadores do PMDB reafirmaram o apoio ao fim do sigilo eterno depois das declarações de Ideli.

Há duas semanas, antes da manifestação do Itamaraty, em almoço da bancada com a presidente Dilma, Collor fez um apelo veemente à presidente, alegando que a divulgação de certos documentos diplomáticos pode criar grandes constrangimentos para o Brasil.

- Há cartas antigas do então embaixador do Brasil na Bolívia, para o mandatário do Acre no Brasil, pedindo para mandar aos bolivianos mais cavalos manga-larga, e outras coisas que não podem vir a público de jeito nenhum, como os pedidos para mandar mulheres bonitas em troca do Acre. A divulgação dessas cartas pode levar os bolivianos a dizer que o trato não foi cumprido, ou que o Acre foi vendido para o Brasil muito barato e reabrir a discussão, para o Brasil pagar mais uma fortuna pelo estado. E também documentos da Guerra do Paraguai que têm implicações delicadas, que podem levar os paraguaios a achar que o Brasil manda muito naquele país - teria dito Collor a Dilma, segundo presentes.