Título: Brasileiro no FMI critica escolha de Lagarde
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Fonte: O Globo, 30/06/2011, Economia, p. 29
Paulo Nogueira, diretor que representa o Brasil e outros 8 países no Fundo, diz que processo foi "altamente insatisfatório"
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo que representa o Brasil e mais oito nações sul-americanas e caribenhas no comitê executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), criticou ontem, em entrevista à BBC, a escolha da ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, para chefiar o organismo. Ela foi anunciada como nova diretora-gerente do Fundo na terça-feira, ao fim de um processo classificado por Paulo Nogueira como "altamente insatisfatório".
- Era uma eleição predeterminada. Enquanto os países europeus permanecerem unidos em torno de um nome único e houver a percepção de que os Estados Unidos concordarão com ele, e isso tem sido assim desde o início, todo o processo será muito desequilibrado - disse Paulo Nogueira, assumindo uma posição contrária à do governo brasileiro, que apoiou a candidatura de Lagarde.
O diretor fez questão de elogiar o adversário de Lagarde na disputa pelo cargo, Agustín Carstens, presidente do Banco Central do México, cujo discurso de campanha enfatizava a importância de os países emergentes terem um representante no comando do FMI. Para ele, o mexicano foi "muito corajoso".
- O fato é que nós (os países emergentes) estamos muito longe do que precisamos, que é uma eleição independente de nacionalidade - afirmou. - Tínhamos muitos candidatos com potencial, inclusive de dentro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas, no curto período entre a renúncia de Dominique Strauss-Khan e a seleção do novo diretor, era difícil convencer algum deles a se candidatar.
Em maio, o francês Strauss-Kahn foi obrigado a deixar a chefia do FMI por causa de um escândalo sexual em Nova York - ele é acusado de estuprar uma camareira de hotel. Sua renúncia levantou a possibilidade de quebra de uma tradição: um europeu no comando do Fundo e um americano na direção do Banco Mundial. Mas Lagarde acabou conquistando o apoio de emergentes como Brasil e China.
Para o representante brasileiro no FMI, o organismo tem "uma distribuição muito distorcida do poder de voto, e isso permite a continuidade desta regra arcaica".