Título: Senado aprova mais R$55 bi para o BNDES
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 30/06/2011, Economia, p. 25

BRASÍLIA e RIO. Em meio a críticas da oposição sobre a ajuda do BNDES à fusão de Pão de Açúcar e Carrefour, o Senado aprovou ontem a medida provisória 526, que permite a União conceder empréstimo de R$55 bilhões ao BNDES. Essa não é a primeira capitalização do banco feita pela União. O texto foi aprovado com as alterações feitas pela Câmara, por 38 votos a favor e 15 contra. Como foi alterado, irá à sanção da presidente Dilma Rousseff. A oposição votou contra, alegando que o BNDES está usando recursos públicos para ajudar empresas.

- Estão torrando dinheiro público - disse o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), defendendo a instalação de uma CPI do BNDES.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), também criticou a capitalização:

- Trata-se de se subsidiar mais empresas.

Irritado, o relator da MP 526, senador Lindbergh Faria (PT-RJ), rebateu as críticas:

- Isso não tem nada a ver com essa MP. Essa fusão foi com o BNDESpar.

Se concluído, o aporte do BNDES de até 2 bilhões no negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour não significará a entrada do banco estatal no grupo. Isso porque o BNDESPar - seu braço de participações - já detém 0,21% das ações da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD, de Abilio Diniz). Essa é, portanto, apenas uma das 152 empresas de capital aberto que contam com o banco como sócio. A carteira de ações do BNDESPar valia R$90 bilhões em 31 de março.

Economistas questionam a atuação do banco. O professor Carlos Eduardo Soares Gonçalves, do Departamento de Economia da FEA/USP, vê falta de clareza na ação do BNDESPar. Ele acredita que a política está equivocada em tentar formar empresas de grande porte e criar "vencedores":

- Quase nenhuma participação do BNDESPar faz sentido. Muitos negócios poderiam ser feitos só com bancos privados.

O banco possui participação relevante em 52 empresas onde tem mais de 20% do capital. Em 33 delas, o percentual é superior a 25%. Neste grupo estão empresas como a Vale Soluções em Energia (45,36%), Tupy (35,57%), CEG Rio (34,56%), Fibria (30,42%) e Inepar Energia (27,63%). Com isso, o BNDESPar contava com representantes no Conselho de Administração de 31 companhias.

O banco também possui participações em empresas como Petrobras (11,61%), Vale (9,79%), Eletrobrás (18,50%), JBS (17,02%), Telemar-Oi (16,92%), Light (15,02%), Klabin (11,81%), Coteminas (10,35%), Braskem (5,53%) e Bombril (10,61%), Embraer (5,37%) e Gerdau (3,5%). O economista Fábio Kanzuc, da USP, é enfático:

- Tudo é muito nebuloso no BNDESPar. Por que em uma determinada empresa a participação é grande, em outra pequena e em outra eles não entram?

O BNDES informou que a gestão desta carteira de ações busca fortalecer o patrimônio do banco e apoiar companhias com boas perspectivas de retorno. Afirmou ainda que a carteira de participações do BNDESPar é lucrativa, representando 55% do resultado do banco. (Cristiane Jungblut e Henrique Gomes Batista)