Título: Primeira-dama recebia dinheiro vivo
Autor: Simionato, Maurício
Fonte: O Globo, 29/06/2011, O País, p. 10

Denúncia é de Aquino, delator do esquema de corrupção em Campinas

CAMPINAS (SP). Delator do esquema de corrupção na Prefeitura de Campinas, no interior de São Paulo, Luiz Augusto de Aquino afirmou ontem em depoimento à Justiça que entregava "dinheiro vivo" e "em mãos" para Rosely Santos, mulher do prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), o Doutor Hélio.

Segundo Aquino, que é ex-presidente da Sanasa, empresa de saneamento de Campinas, o dinheiro desviado correspondia a 10% dos valores dos contratos de todas as obras e serviços prestados pela Sanasa no período entre janeiro de 2005 e julho de 2008. A primeira-dama foi chefe de Gabinete do prefeito de 2005 até o mês passado, quando foi exonerada após denúncias.

- As entregas eram feitas no escritório dela na prefeitura, no escritório de uma empresa dela e na casa dela. Nas vezes em que fui lá, o prefeito nunca me viu dar o dinheiro a ela. Eu entrava no escritório do prefeito na casa dele, mas ele nunca participou das entregas. Se ele sabia ou não sabia eu não posso afirmar - declarou Aquino ao juiz Nelson Augusto Bernardes, da 3ª Vara Criminal.

Rosely nega as acusações. Seu advogado, Eduardo Carnelós, foi procurado ontem em seu escritório, mas retornou o contato até o fechamento desta edição. A primeira-dama chegou a ter a prisão preventiva decretada e permaneceu foragida, mas conseguiu revogar a ordem de prisão no Tribunal de Justiça.

Aquino, que era amigo de Doutor Hélio desde a infância, afirmou ao juiz que entrou para o grupo de fraudadores em 2005, logo após ter sido nomeado presidente da Sanasa. Segundo ele, a organização era liderada pela primeira-dama e pelo empresário Antonio Carlos Cepera, que está com prisão preventiva decretada e permanece foragido.

- Esse esquema todo era comandado desde o começo pela doutora Rosely. O dinheiro era entregue a ela, e eu não sabia mais para onde ia e como era a distribuição. A grande mentora (das fraudes) é ela - afirmou.

Aquino disse ainda que os lobistas Emerson de Oliveira e Maurício Manduca, que agiam por ordem de Cepera, gravaram conversas deles sem o seu conhecimento e usavam os áudios para chantageá-lo e fazê-lo manter as fraudes:

- Eles exigiam mais contratos o tempo inteiro.

* Especial para O GLOBO