Título: Caso Battisti tira Tabucchi da Flip
Autor: Conde, Miguel
Fonte: O Globo, 29/06/2011, O País, p. 11

Estrela aguardada em Paraty, italiano cancela vinda como forma de protesto

O escritor italiano Antonio Tabucchi cancelou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e alegou que agiu assim por discordar da decisão do governo brasileiro de não extraditar o ex-militante Cesare Battisti. Um dos autores mais aguardados da 9ª edição da Flip, que começa semana que vem, Tabucchi já havia desmarcado, também em cima da hora, sua participação na festa ano passado, à época atribuindo a decisão a problemas de saúde.

O curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, conta ter dito a Tabucchi que ele poderia abordar o caso Battisti como quisesse durante sua mesa. O italiano teria respondido que seria "deselegante" criticar o governo brasileiro estando no Brasil.

- Explicamos a ele que a decisão do governo está longe de traduzir por unanimidade o pensamento do povo brasileiro. Particularmente, não conheço uma pessoa que seja a favor de acolhermos Battisti - diz Costa Pinto. - A decisão faria mais sentido se a Flip fosse organizada pelo governo ou fosse um evento de alguma forma usado politicamente. Não é o caso.

Em janeiro, Tabucchi publicou no jornal francês "Le Monde" um artigo no qual criticava os intelectuais franceses por seu apoio a Battisti, defendia o processo judicial que o condenou na Itália e afirmava que o caso "bagunça" ou "muda" ("bouleverse") as regras do direito.

O escritor e psicanalista Contardo Calligaris substituirá Tabucchi na mesa 8 da Flip, que conta ainda com Ignácio de Loyola Brandão. Quem quiser a restituição do valor do ingresso deve fazer a troca na bilheteria do evento em Paraty (mais informações pelo e-mail flip@ticketsforfun.com.br).

Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália em 1995 pelo homicídio de quatro pessoas nos anos 1970. Desde 1981, ele estava asilado na França, para onde fugira após uma condenação anterior, por participação num grupo armado. Em 2004, sob ameaça de extradição, Battisti fugiu para o Brasil. Foi preso no Rio em 2007, e deste então a Itália pede sua extradição. O STF concordou, em julgamento ocorrido em 2009. Mas, no ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se a extraditar o italiano. O STF legitimou a posição do ex-presidente e libertou Battisti no início deste mês.

Semana passada, o Conselho Nacional de Imigração concedeu a Battisti autorização para permanência no Brasil. Com o documento, ele poderá viver e trabalhar por tempo indeterminado no país. O italiano já teria contrato com a editora Martins Fontes para a publicação de livros.

A embaixada italiana em Brasília pediu às autoridades brasileiras a ativação de uma comissão permanente de conciliação para analisar a decisão de não extraditar Battisti. A comissão tem quatro meses para se manifestar sobre o caso. Se as conclusões da comissão forem rejeitadas, vai se abrir então caminho para que a Itália recorra ao Tribunal de Haia, a Corte da Organização das Nações Unidas.