Título: Quase metade das mulheres foi agredida por marido
Autor: Falcão, Jaqueline
Fonte: O Globo, 29/06/2011, O País, p. 11

Pesquisa mostra ainda que 38% dos homens admitem que bateram nas companheiras; 12% dizem que foi sem motivo

SÃO PAULO. Pesquisa sobre violência doméstica divulgada ontem pelo Instituto Avon e pela Ipsos revela que 47% das mulheres admitem que já foram agredidas fisicamente dentro de casa. O levantamento ¿Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil¿ revelou ainda que 38% dos homens também admitem que já agrediram fisicamente suas mulheres. As maiores causas das agressões são ciúme e alcoolismo, mas eles (12%) também confessam que já bateram nas companheiras sem motivo.

Na região Centro-Oeste, o medo de ser morta é o principal motivo de as mulheres agredidas não abandonarem os seus agressores. O motivo foi apontado por 21% das pessoas entrevistadas na região.

Nos estados do Sudeste, o medo de ser assassinada por ter rompido a relação chega a 15%. No Sul, 16%. O Nordeste tem o menor índice, 13%.

¿ É uma vergonha a mulher não sair de casa porque pode ser morta. Ciúme não é paixão. É mais complexo. O homem acha que tem posse da mulher. E a sociedade machista é um problema porque acha que a mulher não tem direito a autoestima e nem pode falar, se manifestar ¿ comentou a socióloga Fátima Jordão, conselheira do Instituto Patrícia Galvão, ONG que defende os direitos da mulher.

Entre as mulheres agredidas, 15% são forçadas a fazer sexo

Entre as mulheres agredidas no país, 15% afirmam que são forçadas a fazer sexo com o companheiro. Ao todo, 25% apontam a falta de dinheiro para viver sem o companheiro como um motivo significativo para que elas não os abandonem.

A pesquisa mostra que a sociedade não confia na proteção jurídica e policial nos casos de violência doméstica. Essa é a percepção de 59% das mulheres e de 48% dos homens.

¿ Denunciar depende da coragem da mulher. O número de denúncias feitas ainda é pequeno em relação à violência que existe. Isso acontece porque as políticas públicas, que incluem delegacias especializadas e centros de referência, ainda estão aquém da necessidade ¿ afirmou Maria da Penha Fernandes, que foi baleada pelo marido e teve o nome empregado na Lei Maria da Penha, que pune a violência contra mulheres.

A pesquisa foi feita em 70 municípios, com 1.800 homens e mulheres, entre 31 de janeiro e 10 de fevereiro. Para relatar a violência, os entrevistados responderam um questionário sigiloso.