Título: Casino abre guerra contra Diniz e declara que negociação é ilegal
Autor: Berlinck, Deborah; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 29/06/2011, Economia, p. 24

BRIGA DE GIGANTES: Viagem para a França não dissipa clima de animosidade

Em comunicado, grupo lembra que tem poder para impedir união com Carrefour

PARIS e SÃO PAULO. O Casino praticamente declarou guerra ao empresário Abilio Diniz. Em um comunicado, o grupo promete lutar contra a fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. Segundo o jornal "Le Monde", Diniz teria tentado se encontrar na segunda-feira com o executivo-chefe do Casino, Jean-Charles Naouri, mas este se recusou a recebê-lo depois de saber que o sócio fora antes ao Carrefour.

O porta-voz do Casino, Frédéric Rosselet, foi lacônico ao ser perguntado sobre o assunto:

- Eles não se encontraram. Se ele tentou se encontrar, não sei, é melhor perguntar a Abilio Diniz.

Casino diz que negociações foram "secretas e ilegais"

As primeiras linhas do comunicado do Casino já deixam claro o clima de animosidade. O grupo contesta o caráter espontâneo da proposta de fusão iniciada pela Gama, sociedade criada pelo grupo financeiro BTG Pactual. Além disso, denuncia negociações "secretas e ilegais".

"(...) Não se trata de uma proposta espontânea da Gama, veículo de investimento, mas, sim, de um projeto de operação financeira preparado de longa data e ilegalmente pelo Carrefour e por Abilio Diniz", diz um trecho. O Casino ainda frisa que tem o poder de se opor ao projeto de fusão, lembrando que, pelos contratos de sociedade com Diniz, nenhuma negociação pode ser feita sem a sua concordância.

Em maio, quando o Casino apresentou um pedido de arbitragem internacional contra as negociações entre Diniz e o Carrefour, o jornal "Le Figaro", citando fontes que "conhecem bem os dois grupos", levantou a hipótese de que tudo não passava de um "blefe" do empresário para aumentar o preço de sua parte no negócio e vendê-la posteriormente. Isso, segundo o jornal, porque "o brasileiro está consciente de que nenhum de seus filhos poderá sucedê-lo".

Este mês, a Justiça francesa, a pedido do Casino, vasculhou escritórios do Carrefour em busca de provas de negociações irregulares entre Diniz e o rival. Segundo o grupo, 150 documentos foram apreendidos, dos quais 22 apontariam negociações entre Carrefour e Diniz.

O Casino anunciou que vai examinar nas próximas semanas a melhor forma de defender seus interesses. Já o Carrefour optou por um comunicado no qual detalha a proposta.

Impaciência com espera de 24 horas em Paris

Diniz não participou do anúncio da proposta de fusão. Enquanto a divulgação era feita na sede da Estáter, a butique de investimentos que o ajudou a moldar o plano, ele estava em Paris com uma missão duplamente difícil: evitar que as relações com o Casino ficassem ainda mais azedas e explicar as vantagens que uma eventual associação com o Carrefour no Brasil traria para o sócio. Mas, depois de um dia na França, parece ter perdido a paciência.

"Estou em Paris há 24 horas, tentando sem sucesso um encontro com Jean-Charles Naouri (presidente do Casino), a fim de discutirmos a proposta que recebemos e que precisa ser analisada. JCN se nega a dialogar, prefere me atacar pela imprensa. Não consigo entender o propósito disso", afirmou o empresário, em carta enviada à diretoria do Pão de Açúcar.

A insatisfação de Diniz, que chegou a Paris na segunda-feira e tem regresso programado para a madrugada de hoje, também estava relacionada a um pedido do Casino para que fosse convocada uma reunião de emergência da Wilkes Participações, holding criada pelas duas partes para dividir o controle do Pão de Açúcar. Para o grupo francês, Diniz cometeu uma ilegalidade ao procurar o Carrefour sem consultá-lo previamente.

"Todas as manifestações (...) feitas até agora (...) têm sido extremamente agressivas e distorcem completamente a realidade dos fatos", atacou, acrescentando que continuaria em busca de "uma solução amigável para o bem da companhia e de todas as partes". "Tenho fé em Deus que em breve todo o problema com Casino estará superado e poderemos continuar nosso trabalho com eficiência, alegria e felicidade", escreveu.

Pela manhã, quando tentava se encontrar com executivos do Casino, Diniz havia divulgado uma carta amena. Nela, dizia que os benefícios do negócio eram enormes e prometia analisar a proposta com "o sócio e co-controlador, o Casino": "A decisão final será tomada seguindo os trâmites de praxe, previstos na lei e nos Acordos de Acionistas, em assembleia geral, após o exame pelo Conselho de Administração da companhia."