Título: Fusão poderá fechar lojas nos grandes centros
Autor: D"Ercole, Ronaldo; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 29/06/2011, Economia, p. 25

BRIGA DE GIGANTES: Executivo prevê que grupo deve se desfazer de 5% a 7% de filiais no Rio e em São Paulo

União Pão de Açúcar-Carrefour terá que passar pelo Cade, que deverá impor restrições como venda de supermercados

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Os executivos responsáveis pela proposta de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour não veem risco de o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetar a operação. Porém, reconhecem que, em grandes centros, haverá concentração elevada de mercado. Por isso, esperam que sejam obrigados a vender ou fechar entre 5% e 7% das lojas em cidades como Rio e São Paulo.

- Eles (os conselheiros do Cade) vão avaliar tecnicamente e segundo algumas regras de concentração pela distância entre as lojas. Mas temos superposição e uma concentração um pouco maior apenas em grandes centros, como Rio e São Paulo -- disse Cláudio Galeazzi, ex-presidente do Pão de Açúcar e hoje sócio do BTG Pactual. - Não temos números exatos, mas nossa avaliação é que entre 5% e 7% das lojas nos grandes centros poderão ser fechadas ou trocar de bandeiras.

Segundo Galeazzi, com a aprovação da fusão, Pão de Açúcar e Carrefour terão 1.882 lojas no país, com participação de mercado próxima de 32%.

Restrições serão inevitáveis, afirmam fontes do setor

Para fontes do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) e especialistas ouvidos pelo GLOBO, a eventual união entre Carrefour e Pão de Açúcar dificilmente será aprovada pelo Cade sem alguma restrição. Eles destacam que o setor varejista do país está se tornando cada vez mais concentrado, o que faz com que grandes empresas tenham mais chances de prejudicar concorrentes. Hoje, o Cade está envolvido em outra megafusão, a de Sadia-Perdigão.

- Não é uma fusão trivial. É de um tipo que nunca será aprovada sem restrições - afirma Luiz Carlos Prado, ex-conselheiro do Cade e professor de Economia da UFRJ.

- A primeira coisa que deve acontecer é a formalização de um Apro (acordo pelo qual as empresas se comprometem a não adotar medidas irreversíveis antes do julgamento pelo Cade) - diz Rui Coutinho, ex-secretário de Direito Econômico e ex-presidente do conselho.

Ainda é difícil mensurar o tamanho das possíveis restrições. Segundo José Del Chiaro, advogado e também ex-secretário de Direito Econômico, o que se pode dizer agora é que as autoridades de defesa da concorrência terão de olhar com atenção para a distribuição das lojas do Carrefour e do Pão de Açúcar nos estados:

- O Cade vai olhar o caso geograficamente. Em alguns lugares, o conselho deve mandar fazer algum desinvestimento (como vender lojas).

O Cade julga fusões que representem concentração de mercado acima de 20% ou envolvam um faturamento superior a R$400 milhões. O conselho informou que o caso será avaliado quando a proposta for apresentada às autoridades.