Título: Para a oposição, um gesto civilizado
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 28/06/2011, O Páis, p. 10

Tucano elogia presença de petistas

SÃO PAULO. A presença de ministros do governo Dilma Rousseff no velório do ex-ministro Paulo Renato Souza, anteontem, em São Paulo, e os discursos de reconhecimento do trabalho do tucano no Ministério da Educação foram interpretados como mais uma demonstração de mudança na relação entre PT e PSDB conduzida pela presidente, na avaliação de políticos de oposição. Para eles, o gesto, que deveria ser natural numa democracia civilizada, chamou a atenção devido ao estímulo à rivalidade durante o governo Lula. O corpo de Paulo Renato foi enterrado ontem de manhã, no cemitério do Morumbi, na capital paulista.

Quatro ministros do governo Dilma foram ao velório: José Eduardo Martins Cardozo (Justiça), Orlando Silva (Esportes), Ana de Hollanda (Cultura) e Fernando Haddad (Educação), que chegou acompanhado do líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira. A presidente Dilma também divulgou nota oficial lamentando a morte e elogiando o tucano.

- A presença de ministros lá não deveria causar nenhum espanto. Só causou porque aqui estamos vindo de um período de intolerância vivida nos anos de Lula - disse o deputado Roberto Freire (PPS-SP): - Acho que a gente começa a estabelecer uma relação política civilizada.

Os discursos petistas de reconhecimento ao trabalho de Paulo Renato foram agradecidos ontem por tucanos após o enterro:

- Você vê que, quando o trabalho é bem feito, não é ideologizado nem partidarizado, há um reconhecimento de todo mundo - disse o secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo.

Para o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), falecimentos sempre acabam levando os políticos a discursos de convergência:

- Acho que é um gesto natural entre os políticos em situações de morte. Acho que pesam na consciência todas as críticas do passado, e tentam fazer reparações nessas horas. Independentemente do gesto de irem ao velório e reconhecerem o legado do ministro Paulo Renato, a oposição continuará sendo oposição - afirmou Dias.

Entre os tucanos que foram à cerimônia de ontem, restrita a parentes e poucos amigos, estavam ainda o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador de São Paulo José Serra e o atual governador do estado, Geraldo Alckmin. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também compareceu.

A missa de sétimo dia foi marcada para sexta-feira em São Paulo, em local ainda não definido. Uma outra cerimônia será realizada sábado em Porto Alegre, onde vive a mãe de Paulo Renato, que, recuperando-se de uma cirurgia, não pôde ir a São Paulo.