Título: Analistas veem distensão política com Dilma
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 28/06/2011, O Páis, p. 10
Ida de ministros ao velório do tucano Paulo Renato e carta a FH são vistas como formas de melhorar relação com PSDB
FH, com um lenço, no enterro do ex-ministro Paulo Renato: presença de petistas foi elogiada por tucanos
SÃO PAULO. Cientistas políticos afirmam ver hoje uma distensão política no país com a substituição de Luiz Inácio Lula da Silva por Dilma Rousseff na Presidência da República. A presença de petistas no velório do ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza é uma continuidade do "ato de paz e amor" protagonizado por Dilma ao enviar a carta de parabéns para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pelos seus 80 anos, reconhecendo os legados da gestão tucana, na avaliação de David Fleischer, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB).
-- O Paulo Renato era um dos alicerces do PSDB. A presença dos ministros (do governo Dilma) no velório pode ser entendida como um ato de estender a mão ao PSDB - analisou Fleischer.
Com Lula, relação era mais tensa, dizem analistas
O cientista político disse acreditar que a relação entre governo e oposição mudou desde que Lula passou a faixa presidencial para Dilma, em janeiro:
- Com certeza, o Lula não teria feito esse gesto de divulgar uma carta lamentando o falecimento. A relação com a oposição hoje está mais civilizada, mais amena.
Fábio Wanderley Reis, professor emérito de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concorda que a disputa com a oposição era mais tensa durante o governo Lula, mas não acha que a presença de petistas no velório seria diferente na gestão anterior:
- Acho difícil imaginar que, diante de uma ocorrência como essa (durante o governo Lula), não houvesse também manifestações educadas por parte de integrantes do governo, mesmo que o clima geral fosse de mais enfrentamento - afirmou Reis: - Seria inadmissível e negativo que pessoas que divergem politicamente não pudessem se solidarizar com os adversários em momentos como este.
Reis avalia que a carta de Dilma a Fernando Henrique é um exemplo mais claro de tentativa de distensão do cenário político brasileiro:
- A carta é uma iniciativa muito explícita (de aproximação com a oposição), elaborada, intensa nos elogios, numa ocasião que exigiria menos do que no falecimento de uma figura importante da oposição. É indicativa de uma melhora na relação - afirmou Reis.
Marco Antonio Teixeira, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas (FGV), disse considerar louvável a presença de petistas no velório do ex-ministro tucano. Afirmou, porém, não acreditar que o país viva um novo clima na disputa política entre PT e PSDB:
- No velório (da ex-primeira dama) Ruth (Cardoso, em 2008), houve aquele abraço do Lula no Fernando Henrique que ficou marcado. Há um clima de civilidade. Reconhecem que são adversários, mas isso é deixado de lado num momento como esse - disse Teixeira.