Título: Com usinas, Vale quer retomar mercado interno
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 28/06/2011, Economia, p. 19
RIO e SÃO PAULO. Embora a Vale não comente oficialmente a estratégia de suas potenciais concorrentes, a visão da nova gestão da mineradora é a de que será preciso compensar a perda do mercado interno. Em 2010, 10,8% das vendas de minério de ferro e pelotas tiveram o Brasil como destino. Em 2005, era quase o dobro: 18,1%. A redução deveu-se mais à demanda chinesa que à retração no consumo interno. A Vale não quer, porém, ficar a mercê de conjunturas internacionais e vê na retomada da indústria naval, no pré-sal e nos Jogos de 2016 a chance de ampliar vendas domésticas. O tema foi debatido em reunião entre o novo presidente da empresa, Murilo Ferreira, e a presidente Dilma Rousseff este mês.
No seu objetivo de criar um mercado cativo para o minério no Brasil, a Vale busca ser minoritária nas siderúrgicas, como na ThyssenKruppCSA, no Rio. Além desta, a mineradora tem mais três projetos de usinas: um no Ceará, no qual terá como sócias sul-coreanas, um no Espírito Santo e um no Pará, que serão submetidos ao Conselho de Administração. Os quatro somam US$21 bilhões.
Declarações à imprensa de Ferreira ontem sobre seu entusiasmo com os projetos fizeram as ações ON da Vale recuarem 0,74%, para R$48,52. A Vale PNA caiu 0,14%, para R$44,04. E as ações preferenciais da Bradespar (controladora da Vale) foram a maior queda do Ibovespa, de 1,74%, para R$38,32.
Em evento em São Paulo ontem, Ferreira disse que o preço do minério só deve ter novo ciclo de alta em 2012, com a retomada do crescimento chinês. Quanto a estratégia da Vale na siderurgia, o executivo só não consegue responder a uma pergunta. As novas usinas que pretende desenvolver no país comprariam seu minério, mas venderiam aço para quem num cenário de sobreoferta mundial? (Danielle Nogueira e Lucianne Carneiro).