Título: Brics: desigualdade no Brasil caiu mais
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 28/06/2011, Economia, p. 22

Estudo da FGV mostra que a renda dos mais pobres teve crescimento maior que a dos ricos

SÃO PAULO. O Brasil é o país dos Brics (grupo das maiores economias emergentes, também formado por Rússia Índia, China e África do Sul) que mais tem conseguido conciliar crescimento econômico com redução das desigualdades sociais. De acordo com o estudo "Os emergentes dos Emergentes", divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas, a renda per capita brasileira cresceu, entre 2003 e 2009, em média 1,8 ponto percentual acima da expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos). Foi o melhor desempenho entre os grandes emergentes. Na China, por exemplo, a renda das famílias tem avançado a uma taxa média de dois pontos percentuais inferior à expansão do PIB.

Outro indicador de concentração de renda aponta para o mesmo caminho. Entre 2003 e 2007, segundo o estudo, a evolução da renda dos 20% mais pobres da população brasileira avançou em média 6,30% ao ano, no único país do grupo no qual a renda dos mais pobres cresceu mais a que dos mais ricos. Na China, o salário dos 20% mais pobres cresceu até mais que a do Brasil, 8,5%. Mas o salto entre entre os 20% mais ricos foi quase o dobro: 15%. Já no Brasil, na ponta da pirâmide, a alta da renda limitou-se a 1,7%.

- A desigualdade no Brasil está caindo, e muito, enquanto ela sobe nos demais Brics - diz Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, que divulgou o estudo durante o 1º Fórum BID para o Desenvolvimento da Base da Pirâmide na América Latina, realizado na Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP).

- Estamos falando de uma transformação de grande magnitude em curso no país. Não se sabe o quanto esse ritmo se sustenta, mas não há qualquer sinal de desaquecimento do aumento da renda até aqui - ressalta Neri.

Mais 48,7 milhões na classe média em 8 anos

O resultado dessa combinação de crescimento com redução de desigualdade aparece na mobilidade dos brasileiros na pirâmide social. De 2003 até este ano, 48,7 milhões de brasileiros ascenderam para as classes A, B e C. Contingente que equivale à população da Espanha, observa Neri. Somente entre 2009 e maio deste ano, foram 13,08 milhões de brasileiros que ingressaram nas classes AB/C.

O estudo da FGV estima que, em maio, 22,5 milhões de brasileiros integravam as classes A e B (contra 13,3 milhões em 2003), 105,4 milhões estavam na classe C (65,8 milhões em 2003), e 63,5 milhões nas classes D e E (ante 96,2 milhões na mesma comparação).