Título: Espera de um ano por exame de vista
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 04/07/2011, O País, p. 9

Demora no agendamento de procedimentos simples revolta em pacientes

RIO e TERESINA. Para fazer simples exames de raios X, os pacientes podem ficar meses com a solicitação debaixo do braço. Semana passada, no Rio, uma artesã de 42 anos, que acabara de ser atendida no Hospital de Ipanema, na zona sul, comemorou por ter conseguido marcar um exame para setembro.

- Tenho de festejar, né? Para conseguir a solicitação da consulta que fiz hoje, fiquei um dia inteiro na rua. Passei por três hospitais e dois postos de saúde. E olha que isso foi em abril - conta ela, que não quis se identificar temendo perder a vaga que tanto demorou a conseguir.

Atropelada em 1990, ela já passou por uma dezena de cirurgias ao longo dos anos. Nos últimos tempos, começou a sentir fortes dores nos joelhos e nos ombros, fraturados durante o acidente. Foi aí que iniciou o périplo por hospitais e postos de saúde. A paciente chegou a mostrar toda a papelada para comprovar que a espera é, de fato, muito grande.

- Mas o que mais me incomoda nisso tudo é o fato de o médico ortopedista que me atendeu hoje sequer ter olhado para mim direito. Ele nem examinou meus joelhos - diz.

De tanto frequentar o sistema público de saúde, por conta do número de cirurgias as quais foi submetida, ela conta que já tentou driblar a longa espera nas filas do SUS procurando clínicas populares para realizar exames a preços mais baixos. Mas, depois de desembolsar R$130 por uma ressonância magnética, desistiu da estratégia.

Um ano e dois meses para marcar exame de vista

No Piauí, a agricultora Maria da Costa Araújo, de 67 anos, passou um ano e dois meses tentando fazer, na cidade onde mora, José de Freitas (a 48 quilômetros de Teresina), um exame de visão porque não consegue distinguir os objetos de sua casa durante a noite e queima as mãos quando vai coar e colocar o café em garrafa térmica.

Ela lembra que conseguiu marcar o exame e a cirurgia de visão no Hospital Getúlio Vargas (HGV) de Teresina em maio de 2010. Maria da Costa Araújo afirma que depois de tentar, por mais de um ano, o exame de visão, conseguiu no Mutirão da Catarata, na capital, e na sexta-feira pela manhã estava apreensiva para saber se sua cirurgia seria mesmo realizada após um ano e dois meses de agendada.

Maria da Costa nem chegou a entrar no hospital. Foi avisada na portaria, após esperar duas horas e meia, que a cirurgia de catarata e vilídia (pterígio, uma carnosidade no olho) não poderia ser feita porque a médica tinha faltado ao trabalho.

- Estou decepcionada. Saí de casa, me arrumei, minha família veio comigo, e vou continuar não enxergando muito bem. Fico com as mãos todas queimadas porque o café cai nelas quando estou coando ou colocando na garrafa térmica. Durante a noite, fico achando as coisas da casa tateando, porque não enxergo nada direito e vivo sozinha com meu marido, que também começa a não enxergar - lamenta Maria da Costa Araújo.