Título: Os negociadores por trás da fusão bilionária
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 29/06/2011, Economia, p. 26

Esteves, do BTG Pactual, e Pércio de Souza, da Estáter, participaram das últimas grandes operações do país

PÉRCIO DE Souza: escritório em Londres

lino.rodrigues@sp.oglobo.com.br Gilberto Scofield Jr. gils@oglobo.com.br

SÃO PAULO. Dois nomes envolvidos em recentes operações de fusão e aquisição no país estão por trás da possível união entre Carrefour e Pão de Açúcar: Pércio de Souza, dono da Estáter Gestão e Finanças, que prestou consultoria ao Pão de Açúcar, e André Esteves, fundador do maior banco de investimentos do Brasil, o BTG Pactual.

Souza participou de operações como a aquisição da Brenco pela ETH (do grupo Odebrecht) e da Quattor pela Braskem, que se tornou a maior empresa do setor petroquímico nas Américas. Contratado por Abilio Diniz, controlador do Pão de Açúcar, presta serviços ao grupo desde que fundou a Estáter, em 2003, com mais três sócios. Desde então, tem ajudado o empresário na estratégia de consolidação do grupo varejista no mercado brasileiro. Foi dele, junto ao então presidente do grupo, Claudio Galeazzi, o arranjo para levar o Ponto Frio e as Casas Bahia no fim de 2009. Também começou com ele a aproximação com o Carrefour, dois anos atrás.

Engenheiro de formação, a fama de eficiente de Souza está chegando ao exterior: desde a semana passada, a Estáter tem um escritório em Londres, para dar suporte a empresas brasileiras que buscam ativos no exterior. É de lá que a butique financeira brasileira também quer alçar novos voos, servindo como ponte para empresas europeias interessadas em investir no Brasil.

Souza tem fama de agressivo e autoritário. Sua obstinação é um dos segredos do sucesso da Estáter ¿ nome de uma das primeiras moedas do mundo, cunhada a ouro na Grécia antiga. A consultoria fechou 30 contratos, dos quais nove envolvendo o Pão de Açúcar, o que lhe rendeu o apelido de ¿banqueiro do Diniz¿.

Outro grande nome das aquisições do país, Esteves esteve envolvido em fusões do porte de TAM/LAN (US$12 bilhões) e Oi/Portugal Telecom (R$8,4 bilhões), o que garantiu ao BTG a liderança em operações de fusão e aquisição no Brasil em 2010, segundo a Thomson Reuters.

Esteves faz sua mais alta cartada no varejo brasileiro ao criar a Gama como principal instrumento da fusão Pão de Açúcar/Carrefour e ao reservar para o BTG uma futura participação no novo gigante. A Gama é a Sociedade de Propósito Específico (SPE) que se tornará o Novo Pão de Açúcar (NPA), caso tudo dê certo. Ela entrará na carteira de fundos de private equity (fundos que compram participações em empresas) do BTG Pactual, ao lado de outras como Rede D¿Or (hospitais) e BR Pharma (farmácias).

Outra aposta recente do BTG no varejo foi a aquisição do banco PanAmericano, do apresentador Silvio Santos. Uma declaração feita por Esteves na época revela a motivação que está por trás da intermediação Pão de Açúcar/Carrefour.

¿ O PanAmericano será uma plataforma de distribuição de produtos financeiros e crédito para o varejo num país que verá sua classe média e consumo crescerem. Seremos um país de classe média.

São as classes B, C e D as maiores freguesas dos supermercados. Afinal, ainda que o crescimento desacelere, não deixam de comprar comida.