Título: Diferença de preços nas lojas chega a 75%
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 29/06/2011, Economia, p. 26

Pesquisa do GLOBO mostra que Pão de Açúcar tem itens mais caros do que Extra, do mesmo grupo, e Carrefour

fabianar@oglobo.com.br Paulo Justus paulo.justus@sp.oglobo.com.br

RIO e SÃO PAULO. Caso o negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour seja concluído, o consumidor poderá sair perdendo, afirmam especialistas. Com 27% do varejo brasileiro, a nova companhia teria mais poder para controlar os preços e, assim, a expectativa é de produtos mais caros nas prateleiras. Hoje, pesquisa do GLOBO mostra que há diferenças de preços de até 75% em lojas do Rio.

¿ Essa negociação não vai trazer benefícios para o consumidor, que vai ficar na mão de um novo gigante do setor. E o efeito disso, claro, é nos preços ¿ disse Cláudio Goldberg, professor da Fundação Getulio Vargas, acrescentando que fornecedores também sairão prejudicados. ¿ A cadeia de abastecimento vai perder força e terá de, para não deixar de fornecer a uma bandeira, aceitar negociações.

Atualmente, a concorrência deixa bem claro o limite entre as bandeiras. De 15 produtos pesquisados pelo GLOBO em supermercados, a loja do Pão de Açúcar, no Flamengo, teve sete preços mais altos do que os das lojas do Extra (do mesmo grupo) e do Carrefour (agora abocanhado pelo Pão de Açúcar), ambos na Barra da Tijuca. Em alguns casos, a diferença de preço chegou a 74,5%, como o creme dental Colgate Tripla Ação (90g) a R$1,14 no Carrefour e por R$1,99 no Pão de Açúcar. Outras diferenças foram o saco de arroz Tio João (1kg) e do pacote de macarrão Piraquê (500g), que custaram, respectivamente, 35,8% e 43,2% mais no Pão de Açúcar. Apenas três itens do Carrefour foram mais caros do que os dos supermercados do Grupo Pão de Açúcar e um tinha o mesmo preço do Extra.

Distância entre Carrefour e Wal-Mart seria menor

A fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour pode criar uma gigante com R$65,1 bilhões de faturamento anual. O novo grupo teria três vezes o faturamento do Wal-Mart, que seria o segundo colocado no ranking nacional, com vendas de R$22 bilhões e 11% de participação no mercado. Em escala global, a associação diminuiria a diferença do Carrefour para o líder Wal-Mart. A empresa americana fatura US$405 bilhões anuais, contra US$138,3 bilhões estimados para o grupo franco-brasileiro.

Além de concentrar o mercado, o Novo Pão de Açúcar teria um excedente de R$2,3 bilhões que poderia ser usado para aquisições. O valor diz respeito à diferença entre os R$5,75 bilhões que serão investidos por BTG Pactual e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os R$3,45 bilhões que serão injetados no caixa da companhia.

O presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar), Cláudio Felisoni, disse que a empresa poderia com esse dinheiro adquirir varejistas de eletroeletrônicos, móveis e linha branca. Segundo ele, há opções de redes regionais com faturamento entre R$1 bilhão e R$2 bilhões por ano, que poderiam interessar à empresa.

Além do próprio conglomerado, seus principais concorrentes poderiam iniciar nova leva de fusões e aquisições no país em busca de musculatura, na avaliação de Eugenio Foganholo, diretor da consultoria Mixxer.

¿ Caso a fusão venha de fato a se configurar, projetamos que outros importantes players, como Wal-Mart e o grupo chileno Cencosud, passem a acelerar o processo de consolidação do setor.

Caso a operação não se concretize, Felisoni diz que os olhos do mercado devem recair novamente sobre o Carrefour. Segundo ele, a revelação das negociações entre as redes podem indicar que a situação da francesa no Brasil é ainda pior do que se imaginava.