Título: Só quero ser amado e amar
Autor: Vasconcelos, Adriana; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 01/07/2011, O País, p. 10

Ex-presidente esbanja bom humor e fala dos caminhos do país

BRASÍLIA. Fernando Henrique Cardoso mostrou ontem estar vivendo um ótimo momento. Com bom humor, não se limitou a agradecer o carinho que vem recebendo nas comemorações de seus 80 anos. Embora comovido com alguns elogios, feitos inclusive por adversários políticos, o ex-presidente tucano aproveitou a oportunidade para fazer uma reflexão sobre os novos desafios do país após a consolidação da democracia e de iniciar uma trajetória de crescimento econômico, pontos que, segundo ele, chegaram a ser uma obsessão de sua geração.

- Esse é o desafio que temos pela frente, de criarmos uma sociedade mais decente, onde as pessoas se sintam mais seguras, vejam futuro para seus filhos. Ainda é um desafio chegar a um Brasil onde todos se sintam partícipes. Nos slogans existe, na prática ainda não - advertiu.

E num recado indireto à presidente Dilma, que tem enfrentado problemas com sua ampla base no Congresso, Fernando Henrique sugeriu que talvez o melhor caminho seja retomar a política do convencimento.

- É preciso voltar ao tempo da política do convencimento, do debate respeitoso. Quem sabe encontre aqui ou acolá ponto de convergência. Eu me esforcei muito para mudar muitas coisas no Congresso. Mas sempre dialoguei o tempo todo, ativamente, para convencer - aconselhou.

Fernando Henrique fez também um alerta ao Legislativo sobre a necessidade de se garantir uma integração política maior das chamadas classes emergentes, ainda não representadas.

- Teremos que ouvir as vozes que não conseguem chegar aqui. Esse é novo desafio para fazer com que as novas camadas que estão chegando possam participar da vida institucional - observou.

Fernando Henrique esbanjou bom humor e vitalidade nos agradecimentos às homenagens que vem recebendo.

- Às vezes eu me pergunto se já morri, pois no Brasil só se fala bem quando morre, sensação estranha - brincou.

Aos 80 anos, ele disse estar vivendo uma espécie de renascimento.

- A esta altura só quero uma coisa: ser amado e amar. Eu amo vocês, sou amado, sou feliz. (Adriana Vasconcelos e Cristiane Jungblut)