Título: O peso e o preço de Ciro
Autor: Rotheburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 14/08/2009, Política, p. 3

Em reunião com o PT, PSB vende o peixe de que o deputado cearense sairia candidato a presidente. Lula não desiste de emplacá-lo em São Paulo

Para os socialistas, a candidatura de Ciro tiraria votos dos tucanos Aécio Neves e José Serra

Iano Andrade/CB/D.A Press - 23/3/07

Ninguém decidiu nada até agora. Por que teríamos que decidir? Se Marina for candidata, por exemplo, pode ser um estuário de votos que não voltam para o nosso campo¿ Eduardo Campos, Presidente do PSB

Na opinião dos petistas, o encontro do presidente Lula com a cúpula do PSB e do PT se resumiu numa forma muito educada de o presidente dizer que, em 2010, terá apenas a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata. Para os socialistas, no entanto, foi mais além: o presidente realmente deseja uma eleição plebiscitária ¿ apenas dois candidatos a presidente, um do governo e outro da oposição, com Ciro Gomes (PSB-CE) na corrida pelo governo de São Paulo. O deputado pode até transferir o título eleitoral do Ceará para São Paulo, o que não está descartado. Mas a hora é de cautela, uma vez que começam a pipocar candidaturas que enfraquecem essa tese, caso da senadora Marina Silva (PT-AC), que todos já veem com os dois pés no PV.

¿Ninguém decidiu nada até agora. Por que teríamos que decidir? Na hipótese de Marina ser candidata, é preciso saber que perfil terá essa candidatura. Se fizer uma campanha mais oposicionista, pode ser um estuário de votos que não voltam para o nosso campo¿, comentou o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, porta-voz do jantar que reuniu integrantes dos dois partidos no Alvorada, um encontro que prosseguiu até a 1h da madrugada de ontem.

Os socialistas apresentaram uma série de pesquisas internas que apontam a candidatura de Ciro à Presidência da República como um tipo de voto que, sem ele, seguiriam direto para os tucanos José Serra ou Aécio Neves. E esses votos poderiam ser cruciais para, na hipótese de uma eleição plebiscitária, jogar a vitória nas mãos dos tucanos. Só que, em caso de segundo turno, daria tempo de tentar preparar esses eleitores ao longo da campanha para votarem em Dilma, se a ministra passar ao segundo turno e Ciro, não.

Lula discorda. Deixou claro que deseja ver Ciro candidato a governador de São Paulo. Nesse sentido, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o secretário-geral, José Eduardo Cardozo, garantiram que conseguem arregimentar uma maioria petista para lastrear a candidatura de Ciro em São Paulo. O presidente está tão empenhado no caráter plebiscitário da eleição que colocou a hipótese de Ciro concorrer à Presidência da República como um plano ¿C¿. O B seria fazer do deputado candidato a vice da chapa de Dilma, uma operação que passa ainda pelo que deseja o PMDB, opção preferencial de Lula para essa vaga.

Domicílio

O PSB marcou para 15 de setembro uma nova reunião para fechar a mudança do domicílio eleitoral de Ciro Gomes do Ceará para São Paulo. Seriam 18 dias antes do prazo final para transferências, 3 de outubro, um ano antes da eleição. Ainda assim, ficaria para março de 2010 a decisão final a respeito da candidatura de Ciro. Até lá, acreditam os correligionários, a conjuntura estará mais clara e haverá mais segurança para a tomada de posições.

Na reunião, PT e PSB discutiram ainda os cenários e as mensagens que vêm do PSDB. As apostas de cada um, no entanto, se dividiram. Um grupo considera que José Serra recuou dois passos na intenção de concorrer à Presidência da República e hoje trabalha mais para proteger a posição de governador de São Paulo. Lula não está nesse grupo. Ele acha que Serra está fazendo tudo certo, até mesmo na condução com o governador de Minas, Aécio Neves, cercada de cuidados.

No geral, todos compartilham uma opinião: Aécio, se candidato, tira uma fatia expressiva dos apoios que Lula trabalha para a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. No PSB, todos apostam que o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, apoiaria o governador mineiro. Aécio estará hoje com Eduardo Campos. Será a oportunidade de o PSB medir o terreno e começar a se firmar para o futuro que, esperam os socialistas, seja de Ciro candidato a presidente, até como forma de alavancar a legenda.