Título: Nova turbulência já surge no horizonte
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 01/07/2011, O País, p. 9

Valor de emendas pode ser reduzido

BRASÍLIA. Com seu estilo duro de tentar resolver as coisas que a incomodam, a presidente Dilma Rousseff tem protagonizado idas e vindas que lhe causaram desgaste. Mal superou a crise dos restos a pagar, o governo já anuncia que deseja reduzir o valor das emendas parlamentares apresentadas ao Orçamento da União de 2012, um ano eleitoral. A redução da cota individual de cada parlamentar - hoje de R$13 milhões - foi defendida ontem pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. O assunto já começou a ser discutido com aliados e integrantes da Comissão Mista de Orçamento:

- No meu primeiro ano no Congresso, o valor era de R$1,5 milhão e, no meu último como senadora, foi de R$13 milhões. Temos que construir com eles (parlamentares) uma solução, não adianta ficar com terreno na lua. Não pode ter valor de emenda lá em cima, e o executado (aqui embaixo) tem que fazer convergir - disse Ideli.

Nestes seis meses de governo, Dilma já demonstrou que, quando pressionada, cede. O último "não" a se tornar "sim" ocorreu com a prorrogação do decreto dos restos a pagar. Na segunda-feira, Dilma mandou Ideli avisar aos líderes do governo no Congresso que não prorrogaria as emendas. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), ameaçou: nada se votaria, se a presidente não mudasse de ideia. Em maio, após a bancada evangélica da Câmara ameaçar assinar o requerimento de convocação do então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, para que ele explicasse seu patrimônio, Dilma cancelou a distribuição do kit anti-homofobia.

Na questão do sigilo eterno dos documentos públicos, Dilma, num primeiro momento, declarou-se a favor do texto aprovado na Câmara, que permitia, no máximo, o sigilo por 50 anos. Mudou de opinião, diante da resistência dos senadores e ex-presidentes José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Depois, voltou a mudar de lado, após o Itamaraty garantir que não há documentos que manchem a imagem do Brasil.

Ontem, reunidos no Palácio do Planalto, Ideli e parlamentares envolvidos com a articulação política reconheceram que é preciso afinar o discurso entre governo e base aliada, para evitar novas embates políticos. (Chico de Gois e Cristiane Jungblut)